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CNH assina Protocolos de Cooperação com as Juntas de Freguesia que possuem botes baleeiros
O Presidente do Clube Naval da Horta considera que, se houve no Açores, após o 25 de Abril de 1974, um movimento genuíno, próprio, em que o dinheiro foi bem gasto, foi precisamente o Projecto de Recuperação dos Botes Baleeiros, uma peça viva do nosso património. Palavras proferidas na assinatura dos Protocolos de Cooperação com as Juntas de Freguesia que detêm botes baleeiros, decorrida na tarde desta quarta-feira (dia 30 de Abril).
Salão, Capelo, Feteira, Castelo Branco e Angústias, são as freguesias que possuem botes baleeiros e que integram a Secção de Botes Baleeiros da Ilha do Faial, uma organização do Clube Naval da Horta (CNH).
Dando continuidade ao trabalho de parceria que tem vindo a ser feito entre estas instituições, foram assinados na tarde desta quarta-feira (dia 30 de Abril), no Centro de Formação de Desportistas Náuticos do CNH, os Protocolos de Cooperação entre o Clube Naval da Horta e as Juntas de Freguesias destas cinco localidades faialenses.
O presente acordo tem por objectivo a integração destas Juntas de Freguesia na Secção de Botes Baleeiros da Ilha do Faial e a preservação e recuperação do património baleeiro do Faial, tendo em conta o interesse das Regatas de Botes Baleeiros no Grupo Central do Arquipélago dos Açores, constituindo hoje um cartaz turístico por excelência.
As acções a desenvolver no âmbito do presente Protocolo são as seguintes:
a) Garantir todo o apoio logístico para concretização da manutenção e recuperação do património baleeiro da ilha do Faial;
b) Promover e incentivar a realização de regatas, encontros locais, regionais e internacionais e divulgar a história da baleação na ilha do Faial com o objectivo de a dignificar e salvaguardar a memória colectiva;
c) Criar condições para um apoio eficaz ao funcionamento da Secção de Botes Baleeiros da Ilha do Faial, nomeadamente na união e conjugação de esforços de todas as entidades com património recuperado.
Ao Clube Naval da Horta incumbe:
a) Coordenar a Secção de Botes Baleeiros da Ilha do Faial, tendo a mesma como princípio a união e a conjugação de esforços de todos os organismos com património recuperado na ilha do Faial;
b) Criar condições físicas, técnicas e administrativas para o bom funcionamento da Secção de Botes Baleeiros da Ilha do Faial do presente Protocolo;
c) Disponibilizar os Botes “Claudina” e “Maria da Conceição” para treinos, provas e acções promovidas pela Secção de Botes Baleeiros da Ilha do Faial;
d) Garantir o bom funcionamento e apoio da lancha “Walkíria” no transporte de botes para Regatas do Campeonato Local e Regional de Botes Baleeiros;
e) Fornecer às Juntas de Freguesia todos os elementos e documentos úteis no âmbito das acções abrangidas por este Protocolo;
f) Zelar pelo cumprimento das obrigações assumidas por parte das Juntas de Freguesia no âmbito deste Protocolo.
Às Juntas de Freguesia incumbe:
a) Fazer parte da Secção de Botes Baleeiros da Ilha do Faial, tendo a mesma como princípio a união e a conjugação de esforços de todos os organismos com património recuperado na ilha do Faial;
b) Disponibilizar os respectivos botes à Secção de Botes Baleeiros, sendo a gestão e coordenação da frota de botes da responsabilidade da Secção durante a época desportiva;
c) Apoiar financeiramente a Secção de Botes Baleeiros da Ilha do Faial no valor de seiscentos euros anuais para despesas de funcionamento;
d) Assegurar um apoio de trezentos litros de gasóleo para o transporte dos botes para as provas;
e) Garantir a participação de atletas da sua freguesia nas tripulações da Secção de Botes Baleeiros;
f) Responsabilizar-se por todos os aspectos financeiros e de manutenção dos botes, podendo fazer acordos pontuais com o Clube Naval da Horta ou outras entidades para manutenção e reparação desde que devidamente acompanhada por pessoa da Secção de Botes Baleeiros habilitada para o efeito;
g) Fornecer ao Clube Naval da Horta todos os elementos e documentos úteis no âmbito das acções abrangidas por este Protocolo.
O pagamento do referido montante será efectuado em duas tranches, sendo a primeira respeitante a 50% da verba durante o mês de Abril e o restante montante durante o mês de Setembro.
Qualquer das partes pode dissolver o presente Protocolo perante o incumprimento de alguma das suas cláusulas pela parte contrária.
O Protocolo entra em vigor na data da sua assinatura, produzindo efeitos até ao fim deste ano, sendo renovado anualmente sem aviso prévio, salvo se houver denúncia do mesmo por qualquer uma das partes.
Relativamente aos protocolos assinados, o Presidente do CNH, José Decq Mota, salientou o facto de os mesmos darem suporte organizativo e financeiro ao funcionamento da Secção de Botes Baleeiros da Ilha do Faial que, tendo a organização operacional do CNH, funciona na base do permanente entendimento entre todas as entidades faialenses detentoras de património baleeiro móvel.
Leitura dos Protocolos
O património baleeiro móvel, classificado e utilizável existente no Faial é o seguinte:
Botes
“Claudina” e “Maria da Conceição” – CNH
“São José” e “Capelinhos” – Junta de Freguesia do Capelo
“Senhora das Angústias” – Junta de Freguesia das Angústias
“Senhora da Guia” – Junta de Freguesia da Feteira
“Senhora de Fátima” – Junta de Freguesia de Castelo Branco
“Senhora do Socorro” – Junta de Freguesia do Salão
Lanchas
“Walquiria” – Câmara Municipal da Horta, cedida por protocolo permanente ao Clube Naval da Horta
“Maria Manuela” – Dr. João de Brito
A propósito da lancha “Maria Manuela”, José Decq Manuela salientou a “excelente cooperação” que tem existido entre o proprietário desta embarcação classificada – Dr. João de Brito – colaboração que justificou o convite para integrar, a título permanente, a Comissão da Secção de Botes Baleeiros da Ilha do Faial, o que foi aceite, tendo o mesmo estado presente na assinatura dos referidos Protocolos.
Nesta Conferência de Imprensa, também destinada à Apresentação da Época 2014 da Secção de Botes Baleeiros da Ilha do Faial, este Dirigente saudou e agradeceu a participação da Câmara Municipal da Horta – representada na ocasião pelo seu Vice-Presidente, Luís Botelho – “permanente e inestimável parceiro do Clube, que muito tem feito, desde há vários anos, para que este vasto movimento de preservação e utilização popular do património baleeiro móvel tenha na ilha e no concelho a larga expressão que tem”.
O Presidente do CNH frisou a importância da acção do município na recuperação da lancha da baleia “Walquíria, “uma peça absolutamente determinante nesta actividade desportiva e cultural profundamente popular, que é a utilização do património baleeiro”.
José Decq Mota, que é simultaneamente Responsável pela Secção de Botes Baleeiros da Ilha do Faial, aproveitou a ocasião para anunciar que o Campeonato de Botes Baleeiros à Vela da Ilha do Faial é constituído por 8 Regatas:
Angústias/Castelo Branco/Comprido/Semana do Mar/Feteira/Varadouro/Salão e Aniversário do CNH (Setembro) sendo, para efeitos de classificação, descartáveis duas por cada bote, de acordo com o calendário.
Calendário das Regatas a realizar na Ilha do Faial em 2014:
1.Senhora das Angústias – Angústias – 24/05/14
2.São Pedro – Castelo Branco – 28/06/14
3.Porto do Comprido – Capelo – 19/07/14
4.Semana do Mar – Horta – 09/08/14
5.Senhora de Lourdes – Feteira – 24/08/14
6.Varadouro – Capelo – 06/09/14
7.Senhora do Socorro – Salão – 13/09/14
8.Aniversário do CNH – Horta – 20/09/14
9.APEDA – Horta – A definir
Dentro das novidades para 2014, o Responsável pela Secção de Botes Baleeiros revelou que já estão a ser envidados esforços no sentido de se constituir mais tripulações de remo, ao mesmo que está presente o objectivo de organizar, de forma mais participada e rigorosa, os Passeios à Vela na Semana do Mar, “procurando ir ao encontro da grande procura e bom acolhimento que esta actividade tem por parte do público”.
Neste contexto, irá realizar-se, muito brevemente, mais uma acção de formação para Oficiais e Proas de Botes Baleeiros, concebida e ministrada pelo velejador, monitor e oficial de bote, António Manuel Gonçalves Luís.
Na presente época irão ser promovidas iniciativas de angariação de fundos, abertas à comunidade, tendo em vista o reforço da base material do desenvolvimento desta actividade “muito importante e participada”. A primeira destas iniciativas irá ser realizada pela Secção, nas instalações do CNH, em data e moldes a anunciar proximamente.
Este Dirigente congratulou-se em afirmar que a Secção de Botes da Ilha do Faial tenciona participar com todos os botes e lanchas nas seguintes regatas da ilha do Pico:
- Terra Baleeira (Calheta, Ribeiras e Lajes)
- São Roque
- São Mateus
- Lajes
Além disso, esta Secção tem igualmente o propósito de participar com representações nas restantes regatas do Pico e noutras de outras ilhas, para as quais seja convidada e possa harmonizar de acordo com o seu próprio calendário.
José Decq Mota – um defensor antigo deste tipo de embarcação – manifestou a sua profunda convicção de que esta forma de utilizar, em termos desportivos populares, este magnífico património marítimo que são os botes e as lanchas da baleia, “é a melhor forma que temos de defender e preservar a memória dessa verdadeira odisseia marítima que foi a baleação açoriana, e simultaneamente conservar a própria cultura marítima singular dos Açores”. E prosseguiu: “Estas embarcações e esta tradição não só estão no nosso sangue como têm uma enorme capacidade própria de atracção. Por tudo isso, vale a pena conservar com todo o rigor estes botes e lanchas classificadas e fazer um grande esforço para mantê-los operacionais através da utilização intensa e organizada que deles fazemos”.
Assim sendo, esta Secção tem seguido com atenção as alterações legislativas sobre Património Baleeiro que estão em curso na Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores (ALRAA), tendo manifestado, em tempo oportuno, concordância com o sentido geral dessas alterações as quais reforçam a ligação deste movimento às entidades que tutelam o património e a cultura. Esta Secção também apresentou, em termos de especialidade, sugestões, que espera venham a ser analisadas.
José Decq Mota fez questão de sublinhar “o grande destaque” que envolveu a realização da VII Regata Internacional de Botes Baleeiros, decorrida em Setembro de 2013 em New Bedford, e que foi “excelentemente” organizada pela Azorean Maritime Heritage Society. A Secção de Botes Baleeiros da Ilha do Faial participou com uma tripulação feminina e uma masculina, as quais puderam aperceber-se da importância internacional que é dada a esta nossa embarcação tradicional.
A VIII Regata Internacional será realizada em 2015 nas ilhas do Faial e Pico, tal como foi acordado entre as partes, “e tudo será feito no sentido de que esse evento esteja à altura daquele que foi realizado em New Bedford”, assegurou o Presidente do CNH.
Câmara lamenta não poder apoiar mais
O Vice-Presidente camarário lamenta que o município não possa apoiar mais o CNH
Convidado a proferir umas palavras, o Vice-Presidente camarário, Luís Botelho, afirmou que “é com prazer que a edilidade se associa a este projecto, o que revalida a importância que a Secção de Botes Baleeiros tem para o CNH e para a ilha do Faial”.
Luís Botelho louvou esta “belíssima iniciativa” do Clube Naval da Horta que congrega de forma desportiva o património recuperado. E ressalvou: “Se não houvesse esta recuperação, a Câmara Municipal não teria investido na lancha “Walquíria”.
O Vice-Presidente da autarquia reconhece que “o município não dá o capital de que o CNH necessita mas, sim, o que lhe é possível”.
Este governante enfatizou “o grande orgulho que a CMH tem nesta parceria”, sublinhando “a enorme actividade desta Secção, que reúne mais de uma centena de pessoas”. “Se há exemplo de dinheiro bem investido por parte da Câmara Municipal é precisamente no Clube Naval da Horta”, frisou, lamentando, por isso, que a verba afecta seja “pequena”. O CNH não só promove a recuperação dos botes baleeiros, como também divulga esta actividade, as freguesias e o município, valorizando o património baleeiro do Faial.
“Não se deve desvirtuar a tradição”
No espaço dedicado às questões colocadas pelos jornalistas, Souto Gonçalves quis saber a posição do CNH a propósito da tentativa (gorada) de ser criada uma Associação de Classe do Bote Baleeiro Açoriano. Respondendo à questão (considerada por José Decq Mota como muito pertinente e oportuna), o Presidente do Clube Naval da Horta referiu que o proprietário de um bote classificado de São Miguel (Dr. Cravinho) tomou a iniciativa de criar uma Associação de Classe do Bote Baleeiro Açoriano e que depois de ter registado a mesma informou que esta estava pronta a funcionar.
O Responsável pela Secção de Botes Baleeiros da Ilha do Faial explica que “as associações de classe de vela ligeira são criadas em função da marca dos barcos, cujo objectivo se prende com a promoção e aperfeiçoamento das embarcações”. Como tal, pergunta: “Queremos transformar os botes baleeiros em barcos de competição de Vela Ligeira ou queremos manter os moldes tradicionais de os aparelhar e navegar idênticos ao tempo em que se caçavam baleias? Os botes baleeiros têm de ter uma ligação com as entidades que tutelam a cultura, devem ser utilizados em competição desportiva popular, mas, fundamentalmente, devem ser patrimonialmente mantidos de forma muito rigorosa”.
Na reunião do Conselho Consultivo do Património Baleeiro, realizada em Março último na ilha do Pico, José Decq Mota foi bem claro na sua posição, afirmando-se categoricamente contra esta Associação, assim como a maioria dos presentes. “O bote baleeiro – esclarece este Dirigente – é um barco utilizado a vela e a remo, mas o Dr. Cravinho referiu-se a ele, sempre e só, como barco de vela”.
Este Responsável vinca a necessidade de ser manter o bote tal como era utilizado na faina da caça à baleia e de preservar essa memória. “Actualmente, estas embarcações têm uma utilização pedagógica, turística e desportiva, mas tendo sempre presente a questão cimeira, que é a preservação do património. Se querem constituir mais uma associação, o aspecto principal tem de ser precisamente este e nunca com o intuito de desvirtuar a tradição”.
Se dúvidas houvesse sobre esta matéria, bastaria recorrer ao enquadramento legislativo que é claro, ao consagrar a matrícula como património, e nesse sentido todos os botes exibem a sua matrícula original.
A terminar, este defensor acérrimo do bote baleeiro e da saga que o mesmo encerra, afirmou: “Se houve nos Açores, após o 25 de Abril de 1974, um movimento genuíno, próprio, em que o dinheiro foi bem gasto, foi na recuperação dos botes baleeiros. O bote baleeiro não foi extinto; é uma peça viva do nosso património”.