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“A Figura do Mês” - Renato Azevedo: “A pessoa que aceitar ser Presidente do CNH tem de ter disponibilidade e competência”

Os anos de 89 e 90 foram de mudança para o Clube Naval da Horta (CNH), altura em que passou para a actual sede. Apesar de o Presidente dessa altura, Renato Azevedo, considerar que o elenco directivo foi bafejado pela sorte no que toca a apoios, também se queixa de a sua Direcção ter sido alvo de muitas críticas e algumas difamações. Volvidos 30 anos, este antigo Dirigente fala dessa experiência marcante, que o levou a afastar-se desta “casa” durante 15 anos, aonde regressou em 2005, integrando a Secção de Pesca Desportiva de Barco.

Da Vela para a Pesca de Barco

Tal como muitos outros faialenses da sua geração, Renato Soares de Lacerda Azevedo começou a praticar Vela na antiga Escola da Mocidade Portuguesa, por volta dos 13 anos de idade, continuando no Clube Naval da Horta (CNH) no tempo dos Snipes. Na Mocidade Portuguesa teve como Instrutor o Tenente Zacarias, que era Patrão-Mor na Capitania do Porto da Horta e lhe deixou um ensinamento que ficou gravado para todo o sempre: “Quando se vai para o mar tem de se esperar de tudo”.

Este antigo praticante sempre encarou a Vela na perspectiva de lazer e não de competição. Aliás, defende que o CNH deveria voltar a contemplar aqueles que preferem velejar por prazer, sem estarem focados somente nos resultados.

“Há muitos jovens que gostam de praticar Vela mas não na vertente competitiva, sendo importante a sua formação até, para, em termos futuros, poderem vir a integrar tripulações ou, quem sabe, ter um barco”.

No capítulo das competições de Vela, o nosso entrevistado recorda o historial das suas participações. A primeira foi, ainda, com o iate “Ilha Azul”, como ‘skipper’ numa prova chamada “Os Três Faróis”. Também como ‘skipper’, fez a Regata Horta/Velas/Horta. Depois, integrou a tripulação de Hildeberto Luís numa Volta à Ilha e foi aí que surgiu o convite para fazer parte da equipa do velejador na Regata “Rota des Hortensias”, no ano de 1999.

“Por motivos profissionais – não havia o sistema de dispensas como hoje em dia – só pude fazer a perna da regata que ligou França à Horta. Foi uma aventura e uma boa experiência em que apanhámos de tudo! Fizemos 9 dias de viagem até ao Faial, sempre com os fatos de água envergados e apenas com o nariz de fora, até perto da ilha Terceira. Foi duro para mim, uma vez que não tinha qualquer experiência de navegar em alto mar. Já sabia que atravessar o Atlântico não ia ser fácil. Contudo, era um desejo que tinha e que concretizei, porque gosto de Vela! “

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Olavo Silva e Paulo Azevedo, filho de Renato Azevedo, estando este ao fundo 

Com o crescimento dos filhos, que “gostam muito de pescar e de mergulho”, Renato optou por comprar um barco a motor, “uma solução para satisfazer todos”, que fez com que tenha passado a integrar a Secção de Pesca Desportiva de Barco do CNH, no ano de 2005.

“Para nos ambientarmos ao mar, é importante sabermos de Vela. Aqueles anos na Escola de Vela da Mocidade Portuguesa ajudaram-me muito a conhecer o mar, o Canal, as marés e a maneira como estas funcionam, a mudança de vento contra as marés, enfim, foi uma aprendizagem grande que depois apliquei na Pesca”.

“Disse que contassem comigo para um cargo de pouca responsabilidade, como Vogal ou Suplente”

Renato Azevedo fez-se Sócio do Clube Naval da Horta por volta de 1977, quando já trabalhava, e, apesar de nesse tempo ser frequentador desta “casa”, nunca pretendeu ser Presidente da mesma. Mas os amigos trocaram-lhe as voltas e há três décadas aceitou liderar uma equipa que foi eleita (em Janeiro de 89) para o mandato de 1989/1990.

“O CNH tinha feito uma ou duas Assembleias-Gerais e não chegava a uma solução directiva. Assim sendo, uns amigos perguntaram-me se eu não queria colaborar na solução. E foi numa boa que eu vim à Assembleia-Geral do CNH, onde era sempre referida a necessidade de escolher pessoas idóneas e com mais idade par liderar o Clube, o que não caiu muito bem junto da malta nova que ali se encontrava. Eu e os amigos do meu grupo estávamos a conversar e de repente um deles desafiou os restantes, dizendo: “Vamos apresentar uma solução directiva!” Eu reagi de imediato, alertando que não estava muito virado para isso, atendendo a que tinha acabado de sair de uma Direcção do Sporting Club da Horta. Contudo, acrescentei que, se eles avançassem, poderiam contar comigo para um cargo de pouca responsabilidade, como Vogal ou Suplente. Nunca pensei ser Presidente!”

A ideia ganhou forma e o grupo de 5 elementos disponibilizou-se para formar uma lista. “Foi-nos dada uma semana para apresentarmos a lista completa, assim como um Plano e presumível Orçamento.  

Comigo estavam o António Luís, o José Carreiro, o Manuel Gabriel Nunes, a Isabel Fraga, a que se juntou depois o Disidério Machado e o António Mesquita. Tudo gente que fazia Vela, embora eles mais do que eu, porque, desta malta, fui o primeiro a casar e a ter filhos, o que fazia com que tivesse menos tempo disponível. Além disso, como já referi, estava muito ligado ao Sporting Club da Horta, onde tinha jogado futebol, o que acabou devido a uma lesão. No entanto, assim que me apanharam fora do relvado, meteram-me logo numa Direcção.

Perante o que havia sido dito na Assembleia-Geral, o nosso grupo reuniu-se e ficou decidido que iríamos distribuir os cargos e quem fosse votado tinha de aceitar. E eu, na brincadeira, salvaguardei que aceitava ser 4º Secretário, para abrir e fechar a porta. Mas qual não foi o meu espanto quando todos os meus amigos votaram em mim para o cargo de Presidente!? De imediato disse que não ia aceitar, tendo em conta que o CNH era uma organização em crescendo, o que implicava uma responsabilidade grande, não me sentindo preparado para ser o Presidente. Mas todos eles disseram que também não se sentiam preparados para tal, alegando que eu, como já trabalhava na Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores (ALRAA), estava habituado a eventos, protocolos, etc, e que era a pessoa indicada. Passámos uma noite a discutir e a distribuir cargos e vi-me quase “obrigado” a aceitar”.

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A Pesca de Barco fez com que Renato Azevedo tenha regressado ao CNH em 2005 

Experiências anteriores ajudaram

“No Sporting fiz de tudo e como Presidente só estive durante 2 meses, em regime de substituição até às eleições seguintes. A experiência que tenho é de que o Futebol é uma escola de Recursos Humanos. Aprendemos a lidar com todos da mesma maneira, com outras instituições e clubes e foi essa experiência que eu trouxe do Sporting para o CNH. Mas também trouxe a experiência que tinha na Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores. Sempre trabalhei nos Recursos Humanos mas nesse tempo colocaram-me no Sector Financeiro da ALRAA e a verdade é que eu achei que o modelo de Orçamento e a forma de apresentar as contas da Casa da Autonomia – com rubricas e por sectores – poderia ser aplicado ao Clube Naval. E a primeira grande mudança no Clube foi fazer um organograma e dividir a actividade por secções e a Contabilidade por rubricas, quer na receita quer na despesa. Quando, na Tomada de Posse, apresentámos o nosso primeiro Orçamento – bem como o Plano de Actividades – já foi assim.

O que herdámos da Direcção cessante foi, a nível de instalações, um quarto na antiga sede do CNH [actual Centro de Formação para Desportistas Náuticos, no Cais de Santa Cruz] onde havia uma secretária velha, uma mesa e três cadeiras em igual estado. O Clube dispunha de dois funcionários, que apenas prestavam umas horas: um na Secretaria e o Armando “Catita” nos armazéns”. A nível financeiro, a Direcção cessante

deixou o Clube numa situação saudável: sem dívidas e com um saldo de 4 mil euros, se não me falha a memória.

Afectámos algumas verbas na rubrica para as modalidades de acordo com o que havia sido gasto nos anos anteriores, sendo certo que não havia tantas Secções no activo como presentemente.

Não foi fácil essa ginástica orçamental atendendo a que não queríamos gastar o dinheiro disponível, para que houvesse sempre viabilidade financeira, mas tenho de reconhecer que a minha Direcção foi bafejada pela sorte, embora tenha sido das mais contestadas neste Clube”.

Cedência do Pavilhão Náutico

Em 1989, o então Presidente da República, Mário Soares, veio aos Açores em Presidência Aberta e no Faial, o Clube Naval da Horta, pela projecção que estava a receber a nível do iatismo e das suas actividades, foi uma das três instituições escolhidas.

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Enquanto titular da pasta do Turismo, Eugénio Leal (o segundo da esquerda para a direita) apoiou o CNH

O Governo Regional dos Açores tinha construído aquele Pavilhão Náutico [actual sede do CNH], que havia sido entregue à Junta Autónoma do Porto da Horta (JAPH) para eventos náuticos e era ambição – manifestada por todos os elencos directivos que foram passando por esta instituição náutica faialense – que aquele edifício fosse entregue ao CNH. Aliás, tinha sido prometida uma sede condigna a troco da cedência do Castelo de Santa Cruz, onde o Clube funcionou [posterior Estalagem e actual Pousada]. Mas o Director da Junta Autónoma do Porto da Horta nunca o quis fazer. Porém, quando os assessores do Dr. Mota Amaral e do Presidente da República vieram à Horta e reuniram com a Direcção do CNH ao verem as condições da nossa sede, perguntaram-nos onde é que estávamos pensando receber o Dr. Mário Soares, ao que eu respondi: “Tenho muito orgulho em recebê-lo na nossa sede”. E eles insistiram: “É aqui que quer recebê-lo?!?” “É aquilo que o CNH tem”, retorqui. Os senhores olharam para as instalações e a seguir um para o outro e a reunião acabou.

Quinze dias depois recebi uma chamada telefónica para uma reunião com o Dr. Mota Amaral e o Dr. Tomaz Duarte, que era o titular da pasta do Turismo. O Presidente do Governo Regional cumprimentou-me, dizendo que o CNH era uma instituição muito credenciada e conhecida e que tinha muito prazer em atribuir-nos o Pavilhão Náutico, o que me deixou surpreendido. De seguida, o Dr. Tomaz Duarte pediu que eu contactasse o Director da JAPH com o intuito de ser assinado um Protocolo de Cedência. E foi neste contexto que se deu a tão desejada mudança para o Pavilhão Náutico. Deram-nos uma casa nova, é certo, mas estava vazia!”

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A Secção de Pesca Desportiva de Barco do CNH tem contado com o patrocínio da firma “Delfim Vargas Lda”

Mobiliário contestado

“Com a alteração ocorrida no Governo, em que o Dr. Eugénio Leal foi substituir o Dr. Tomaz Duarte, conversei com o novo responsável pelo Turismo, sublinhando que, embora o Clube tivesse agora uma sede condigna, não havia mobiliário nem meios para adquiri-lo. E o Dr. Eugénio Leal comprometeu-se a levar o assunto ao Conselho de Governo, que deu luz verde para rechearmos o edifício. Aqui começou a grande contestação, pois, havia quem discordasse do mobiliário que escolhemos.

Por todos os lados por onde passei, tive sempre o cuidado de não misturar a política com as colectividades. Mesmo assim, a minha Direcção começou a ser acusada de estar do lado do Governo e a verdade é que nem sabíamos a ideologia de cada um, pois era uma questão que não entrava nos cargos que desempenhávamos no Clube.

Logo a seguir, pedimos autorização para abrir o Bar do Clube – que funcionaria como uma fonte de receita – e o Governo deu o seu aval para avançarmos com a compra do mobiliário, mas como optámos por ser em madeira, fomos criticados. A nossa escolha foi baseada no que existia no Café Internacional, tendo em conta as garantias de durabilidade, o que mais uma vez causou grande celeuma e fez com que eu me tenha sentido mesmo muito ofendido, ao ponto de ter estado 15 anos afastado do Clube!”

Acusados de corrupção

“Uma vez que o Clube tinha a Secção de Mergulho, com compressor, decidimos avançar para a aquisição de uma Câmara Hiperbárica, equipamento que no Faial tinha como representante o Delfim Vargas e em São Miguel o Sr. Tibério Pereira, que era Presidente do Clube Naval de Ponta Delgada. Pedimos propostas aos dois e tendo em conta que eram similares em termos de preço, optámos por comprar ao Delfim Vargas, pois sempre era um comerciante do Faial, que, em reconhecimento por essa decisão, teve a gentileza de oferecer ao CNH um televisor e um leitor de vídeos. Aí, começaram a acusar-nos de corruptos, tudo porque um dos meus Vice-Presidentes, [José Carreiro] havia tido no passado (e já não na altura em que esteve no CNH) uma Sociedade com o Delfim, para aluguer de Scooter’s”.

Duas Regatas Horta/Velas/Horta

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A Presidência Aberta de Mário Soares foi altamente benéfica para o CNH

 “A Secção de Vela de Cruzeiro do CNH juntamente com a Capitania do Porto da Horta, organizavam a Regata Horta/Velas/Horta no dia 10 de Junho. Uns dias antes, o Capitão do Porto da Horta comunicou que esta Regata teria de ser realizada noutra altura. Perante isso, a Secção de Vela de Cruzeiro reuniu novamente, tendo decidido manter o que estava estipulado, uma vez que os donos dos barcos tinham tudo acertado, tendo a decisão sido transmitida à Capitania. Assim sendo, a Marinha informou que retirava a sua colaboração e cortou relações com o CNH.

No jantar realizado nas Velas de São Jorge, oferecido pela edilidade Velense, o convidado de honra foi o Ministro da República para os Açores, General Rocha Vieira – que se fez acompanhar pelo Almirante Pascoal, Chefe da Marinha Portuguesa nos Açores – que insistiu para eu ficar sentado ao seu lado, assim como o Presidente do Município das Velas de então.

Questionando-me sobre o porquê da reduzida adesão à Regata, revelei a conduta da Marinha, que, inclusivamente, oferecia o jantar da Entrega de Prémios a bordo da fragata, tendo me sido comunicado, nas Velas, que não iriam fazê-lo, uma vez que iam oferecer um pico de honra a bordo da fragata, sitiada na Horta, ao Ministro da República e demais Autoridades Civis e Militares. Não podendo contar com esse apoio e estando eu nas Velas, tive de pedir ao Manuel Gabriel, que tinha ficado no Faial, para organizar, em menos de 24 horas, o Jantar de Entrega de Prémios no CNH, que teve como ementa sopas do Espírito Santo, adquiridas à ultima da hora ao Império do Facho.

Depois de ouvir o sucedido, o General Rocha Vieira chamou o Almirante à parte e disse-lhe que a Marinha não tinha procedido bem.

E qual não foi o meu espanto quando recebi o convite para o tal pico de honra? Por decisão maioritária da Direcção e a pedido do General Rocha Vieira, compareci no dito evento e quando cheguei à fragata não sabiam o que haviam de fazer para agradar-me. Mas porque as surpresas se sucederam, logo a seguir perguntaram-me se eu não me importava de, na Cerimónia da Entrega de Prémios da nossa Regata, a Marinha também proceder à entrega dos troféus de umas provas que haviam sido feitas entre marinheiros e militares, evitando, assim, juntar o seu pessoal com as autoridades”. Eu acedi àquele pedido para deixar bem claro que não era por parte da Direcção do Clube Naval da Horta que havia diferendo com a Marinha.

O que mais me magoou foi ver que, uma semana depois, a nossa Marinha organizava outra Regata (Horta/Velas/Horta), cujos membros do júri e organização eram Sócios e alguns elementos pertencentes aos Corpos Gerentes do CNH. Esse grupo foi, com o Capitão do Porto da Horta, fazer propaganda junto dos iates a fim de angariar participação naquela Regata. Ora, como a Direcção do CNH havia apoiado a decisão da Secção de Vela de Cruzeiro em manter a data inicial e a postura da Marinha foi uma clara demonstração de prepotência, tendo havido quem a apoiou por se tratar da instituição que era, tal atitude representou grande desrespeito pelo Clube Naval da Horta”.

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O Comandante Salema (de camisa branca) foi, durante décadas, o Presidente do Júri da “Atlantis Cup”

Entrega de Prémios da “Atlantis Cup” a bordo do “Creoula”

“Logo a seguir veio a “Atlantis Cup”, que nessa altura apenas unia as cidades de Horta, Angra e Ponta Delgada. Lembro-me perfeitamente que o Comandante Salema era o Presidente do Júri, funções que manteve até recentemente.

Ainda no âmbito da Presidência Aberta, os assessores de Mário Soares e de Mota Amaral decidiram fazer a Entrega de Prémios em Ponta Delgada, tendo o jantar, pago pelo Governo, sido a bordo do “Creoula”. Para tanto, foi destacada uma Relações Públicas, Helena Fraga, que, em conjunto comigo, organizou tudo! Ela foi de uma eficiência incrível! As refeições foram servidas por uma empresa de ‘catering’ e, com o apoio da tripulação, fez-se a decoração do barco. O mais ‘stressante’ para mim foi ter de aprender, na véspera, os apitos que iam ser dados para as Entidades Civis e para as Militares”.

“O Festival Náutico implica uma logística gigante”

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“Também organizámos duas Semanas do Mar, que não tinham nada a ver com o que vem sendo feito nos últimos tempos, mas, tal como hoje em dia, havia a colaboração de Voluntários.

Um dos grandes desafios do CNH actualmente é precisamente o Festival Náutico, que implica muita gente e uma logística gigante. Desde que tenho barco, que todos os anos me pedem para colaborar. E tenho feito isso com as diversas direcções do CNH, porque também já fui Presidente e sei que cada vez mais se torna difícil encontrar gente disponível. Aliás, eu defendo que para se poder pôr de pé um programa tão vasto e de tão difícil execução, esta colaboração já devia ser profissionalizada naquela semana. Estar de manhã à noite no mar e no dia seguinte voltar a corresponder às 9 da manhã, é duro! Sacrifica-nos e à nossa família também, pois, todos gostam de ir à festa, aos concertos e conviver nas barraquinhas. E como se tudo isso não bastasse, também costumo participar nas provas de Pesca de Barco”.

“Na organização de regatas, o papel principal deve ser do CNH”

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“Não se pode exigir muito a quem trabalha na base do amadorismo”

“O Clube Naval da Horta assume, cada vez mais, um papel importante para o Faial e na divulgação da ilha, até mesmo no apoio que dá a eventos internacionais. No meu tempo de Presidente, o Governo ajudava na organização e divulgação de regatas. Depois, custou-me ver a Junta Autónoma do Porto da Horta [actual Portos dos Açores, SA.] a chegar-se à frente neste papel, quase a sobrepor-se ao CNH. É verdade que este organismo dispõe de mais meios do que o CNH mas o correcto teria sido pôr esses meios ao serviço do Clube, pois, entendo que não é essa a vocação da Portos dos Açores. Penso que isso mesmo foi reconhecido com a criação da Comissão Náutica Municipal. Defendi isto perante muita gente e continuo a defender que, na organização de regatas, o papel principal deve ser do Clube Naval da Horta.  

Em relação a regatas internacionais, lembro-me da primeira que recebemos, a de 6,5 metros, conhecida como “Regata dos Côcos”, em que a recepção foi na Estalagem de Santa Cruz e tive de fazer uma intervenção em francês e inglês. Socorri-me do João Carlos Fraga para me escrever umas palavras e eu, para não levar o papel, andei a decorar a minha pequena intervenção durante 3 ou 4 dias. Mas no dia disse aquilo nas calmas, fingindo que sabia muito bem e desenrasquei-me. Agradeceram, bateram palmas e correu tudo bem.

Na qualidade de Presidente do CNH, também tive de receber os iates de duas regatas internacionais que passaram pela Horta e a quem demos apoio. Não havia os meios de comunicação de hoje em dia e ficávamos junto ao rádio a tentar perceber a que distância se encontravam e a data de chegada ao Faial. Além disto, também dávamos apoio aos familiares que, entretanto, já se encontravam cá. Nos primeiros dias, conseguiu-se gente para colaborar, mas, como houve 5 ou 6 iates que se atrasaram muito em relação aos outros, os Voluntários começaram a fugir e eu ficava ali na sede, sozinho, de noite, sempre à escuta. Também era preciso avisar aqueles que tinham ficado de ir com os barcos lá fora recebê-los, dar apoio, etc.

O CNH engrandece a Terra e, como tal, deve ser apoiado com meios. E sempre que não seja possível contar com colaboração gratuita, deveria ser semi-profissional, dando uma compensação a quem fizesse isso. Não se pode exigir muito a quem trabalha na base do amadorismo”.

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Na Secção de Pesca Desportiva de Barco do CNH, Renato Azevedo reencontrou amigos e fez novas amizades

 Uma Direcção “muito escrutinada”, o que dificultou novas eleições 

“Depois de, durante 2 anos, ter dado o meu melhor a esta instituição, deixando-a com um saldo positivo de 12 mil euros – juntámos 8 mil aos 4 que havíamos herdado – e equipada com o melhor que havia, claro que fiquei magoado com a forma como alguns Sócios me trataram, o que levou ao meu afastamento e de muitos elementos do meu elenco directivo.

Todos reconheciam – em especial os mais novos – que tínhamos trabalhado e melhorado as condições do Clube mas alguns Sócios, sobretudo os mais carismáticos, contestavam as fontes de apoio, que foram essencialmente governamentais. Tenho de frisar que fizemos tudo dentro da legalidade. Fomos pedindo apoios que foram sendo concedidos. Jamais teci comentários sobre as direcções anteriores, porque parto sempre do princípio que quem aceita liderar uma colectividade vem sacrificar o seu tempo e a sua vida, fazendo o melhor que pode e sabe.

Na Assembleia-Geral realizada no fim do nosso mandato, fomos apelidados de corruptos. Como era da praxe, o Presidente da Assembleia-Geral, que era o Sr. Augusto Sequeira, perguntou-me se pretendíamos continuar, tendo eu dito que não e acrescentei que, depois do que se tinha passado naquela Assembleia-Geral, não queria sequer pôr os pés no Clube! Estas coisas não são fáceis de esquecer. Eram 5 ou 6 pessoas que estavam constantemente a indagar e a fazer afirmações. Foi uma Direcção muito criticada! Vi outros presidentes que tomaram decisões que poderiam ser muito mais controversas do que as que tomámos e não tiveram a contestação que tivemos. Foi muito difícil ser Presidente do CNH! Mas, olhando para trás, sempre que passo pelo Clube, sinto que deixámos uma obra que dignifica esta instituição.

As acusações foram de tal ordem que não conseguiram eleger uma nova Direcção naquela reunião. Posteriormente, foi eleito um elenco directivo liderado pelo Sr. Aurélio Melo, da Alfândega, e a Antena 9 convidou-nos – o Presidente cessante e o actual – para um debate. Lembro-me que ele foi bastante desagradável enquanto que eu me limitei a desejar-lhe sorte, esperando que ele conseguisse chegar ao fim do mandato com todos os elementos da sua equipa juntos e a trabalhar como eu tinha chegado com a minha. Éramos um grupo muito unido, em que todos compareciam e trabalhavam. Orgulho-me muito de ter sido o Presidente daquela equipa com quem trabalhei 2 anos, embora tenham sido dos mais difíceis da minha vida.

Apesar disso, foi um tempo marcante, em que fiz amizades, travei conhecimento com pessoas de outras ilhas que não conhecia, com directores de clubes navais nos Açores, com elementos ligados a actividades marítimas de clubes navais de outros países, vi grandes regatas e tive o prazer de conhecer e cumprimentar outras pessoas, como foi o caso da viúva do meu ídolo da Vela – o Eric Tabarly – o que aconteceu em França, quando fui na Regata com o Hildeberto. Através do CNH, tive a oportunidade de conhecer outras realidades e quando assim acontece e se começa a fazer comparações, vemos o que temos de bom e o que podíamos melhorar. Passamos a compreender como proceder perante certas situações.

Ainda a propósito do Sr. Melo, gostava de acrescentar que, apesar de ele não ter grande confiança comigo, um dia encontrou-me na Marina e confessou: “Não tive a sorte que me desejou”, pois, a verdade é que alguns elementos da Direcção dele abandonaram os seus cargos antes do fim do mandato”.

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“Nova sede do CNH não avança por falta de vontade política”

Renato Azevedo vinca que deixou o Clube “bem apetrechado e com uma sede condigna”. Contudo, volvidos que são 30 anos, o cenário deteriorou-se. Instado a pronunciar-se sobre a razão de a nova sede da única instituição náutica faialense nunca ter arrancado, atira peremptoriamente: “Falta vontade política”. E nota: “Havia um projecto de aumento daquele Pavilhão. Cheguei mesmo a ver um desenho nesse sentido. Esta obra afigura-se cada vez mais urgente, atendendo às actuais instalações, que se tornaram exíguas, faltando espaços para armazéns, uma sala para recepção de eventos náuticos, melhores condições na Secretaria, etc.

Paralelamente, acho que o Clube também precisa que os Sócios se liguem mais a ele.

No meu tempo não havia apoios camarários e as fontes de receitas provinham apenas da exploração do Bar e da quotização dos Sócios. Embora hoje os apoios possam ser mais diversificados, a verdade é que a actividade cresceu muitíssimo e, consequentemente, os gastos também”.

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Renato Azevedo tem conquistado vários prémios através das pescarias feitas no seu “Senhora da Guia” 

“Neste momento, a gestão do CNH assusta!”

E quanto ao futuro desta “casa”, o nosso entrevistado afirma: “Não vejo maneira de as pessoas quererem governar um barco tão grande. É muito difícil ser presidente do CNH! Nos tempos de hoje, a pessoa que aceitar liderar este Clube tem de ser alguém com muita disponibilidade e competência. Claro que também ajuda ter conhecimentos sobre as áreas náuticas.

Já na altura em que passei por aqui assustava mas neste momento a gestão do Clube Naval da Horta assusta muito mais! Mesmo que seja uma pessoa competente, até inteirar-se de tudo e de como tem de actuar, passou um ano sem dar por isso.  

Sempre fui a favor da juventude e, na minha óptica, seria muito bom que o Clube também tivesse mais gente nova no seu elenco directivo. Hoje, mais do que nunca, a sociedade está numa mutação alucinante e é fulcral que quem vier para o Clube conheça a vontade e o querer dos Sócios e dos Atletas, sobretudo dos mais novos, porque são eles que dão vida a esta instituição. Mas tem de haver um equilíbrio no sentido de as pessoas com mais idade não serem postas de parte até, porque, também gostam de praticar algumas actividades e têm experiência em muitas áreas.

A maioria das pessoas com quem falo considera que o CNH é necessário e simpatiza com esta colectividade mas, na prática, são muito poucos aqueles que conhecem verdadeiramente o que ela envolve. Só quem esteve ou está ligado ao CNH tem noção do trabalho, esforço e dedicação necessários para manter este Clube a navegar.

Todas as nossas instituições me merecem respeito e contribuem para o desenvolvimento (social cultural, desportivo) da ilha mas as que mais se destacam no Faial são a ALRAA, o CNH e o meu clube, o Sporting Club da Horta, porque ainda consegue manter uma equipa de Andebol na I Divisão. Estas três entidades têm sido pilares na divulgação desta ilha e da realidade faialense”.

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 “Voluntários deveriam ser compensados nos descontos para a reforma”

“Todos sentimos que a falta de dirigismo começa a acentuar-se, porque os nossos clubes são geridos na base do Voluntariado. Sempre defendi que os membros dos Órgãos Sociais das diferentes colectividades deviam beneficiar de uma regalia que vigorou para os Bombeiros Voluntários e que injustamente acabou, estipulando que, por cada 5 anos de trabalho voluntário, um contava para a idade de reforma. Se quem de direito não encontrar uma solução para compensar aqueles que trabalham de borla (que dão tempo, viatura e até dinheiro) muitas colectividades vão fechar a porta. E isto, porque, os jovens além de terem sido habituados a ter tudo, não fazem nada sem receberem algo em troca. Não há espírito de sacrifício, pelo facto de não se identificarem com muitas das instituições existentes”.

Composição da Direcção do CNH no biénio 1989/1990: 

- Presidente: Renato Soares de Lacerda Azevedo

- Vice-Presidente: José Augusto Carreiro

- Vice-Presidente: António Manuel Gonçalves Soares Luís

- Tesoureira: Maria Isabel Gomes Fraga

- Secretário: Disidério Paulo de Araújo Machado

- 1º Suplente: Manuel Gabriel Goulart Nunes

- 2º Suplente: António Manuel Rosado Xavier Mesquita

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Campeonato Regional de Corrico de Barco 2014

Da direita para a esquerda: Carlos Palhinha, Presidente da Associação Açoriana de Pesca Desportiva de Mar; José Decq Mota, Presidente da Direcção do CNH; e a tripulação da embarcação “Senhora da Guia”, Campeã Regional de Corrico Costeiro, constituída por Renato Azevedo, António Freitas, José Neves e Dário Azevedo

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