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Vela do CNH – Classe Access passa a Classe Hansa: “Pretende-se abrir a Classe a toda a gente e torná-la ainda mais inclusiva”

joao duarte 2 2017

O Clube Naval da Horta (CNH) é o único nos Açores onde a Vela é praticada de forma regular dentro da Classe Hansa, que antes se designava por Access. Desde o fim de 2011 que o Projeto “Vela Para Todos - Faial Sem Limites” é uma realidade, graças à parceria existente entre o CNH e a Associação de Pais e Amigos dos Deficientes da Ilha do Faial (APDIF).

O Treinador da Classe Hansa, João Duarte, explica ao Gabinete de Imprensa do CNH a razão desta mudança e o que se pretende com o Projeto, lamentando que a classe desportiva ainda não tenha percebido que estamos a falar de Vela.

Ao fim de 6 anos de atividade, este Técnico faz um balanço deveras positivo daquilo que tem sido a “Vela Para Todos - Faial Sem Limites”, orgulhando-se de treinar o Campeão Nacional da Classe Hansa de 2016: Rui Dowling que, em maio último, foi galardoado na Gala do Desporto Açoriano, que decorreu nesta ilha.

“O objectivo era que esta embarcação pudesse ser velejada por todos: pessoas com e sem deficiência”

 

- Gabinete de Imprensa do CNH: A que se deve esta mudança?
- João Duarte: Esta mudança de nome, além de ter a ver com questões comerciais, vai de encontro àquilo que era o lema inicial do construtor desta embarcação: criar uma classe para todos. Daí, a designação de Vela Para Todos e que no nosso caso se intitula “Vela Para Todos - Faial Sem Limites”. O objetivo era que esta embarcação pudesse ser velejada por todos: pessoas com e sem deficiência. Tendo em conta que o nome Access está muito identificado com a deficiência e a acessibilidade, foi feita a mudança para Hansa, o que vai no sentido de abrir a Classe a toda a gente, tornando-a ainda mais inclusiva do que ela já é.

classe access 2 2017
“Aquilo que se quer não é vela adaptada, mas vela para todos”

- Gabinete de Imprensa do CNH: Há uma clara conotação da Classe Access com a deficiência...
- João Duarte: Percebe-se que a designação Access está muito identificada com a deficiência e vê-se no comportamento das pessoas que associam muito a classe à deficiência e à vela adaptada. E aquilo que se quer não é vela adaptada, mas vela para todos. O objetivo é que toda a gente possa andar à Vela.

- Gabinete de Imprensa do CNH: Então, porque é que não existe apenas a Secção de Vela Ligeira do CNH, havendo esta divisão?
- João Duarte: Nós não fazemos qualquer divisão, mas é como a sociedade, que também não é inclusiva. De realçar que a inclusão foi o objetivo deste projeto desde o início. As pessoas é que compartimentaram.

- Gabinete de Imprensa do CNH: E tu achas que com a mudança de nome vamos deixar de fazer essa associação?
- João Duarte: Infelizmente não, pois não é só pelo facto de se mudar de nome que vamos conseguir mudar mentalidades. Talvez o tempo possa ajudar nesse sentido.
A questão é que nós ainda falamos muito nos Access. O que existe e que poderá ser polémico, é a intenção de abrir a Classe a todas as pessoas, possibilitando aos que não têm deficiência a oportunidade de também competirem.

- Gabinete de Imprensa do CNH: Mas continua a ser vela adaptada?
- João Duarte: É Vela, que pode ser adaptada, mas destina-se a qualquer pessoa que queira velejar.

- Gabinete de Imprensa do CNH: Quando é que ocorreu a mudança?
- João Duarte: Em termos de Portugal e no que diz respeito à Associação da Classe, a mudança foi assumida em 2017 e este ano é a primeira vez que o Campeonato Nacional (que será em Cascais de 30 de Junho a 2 de Julho) já terá a designação de Hansa, com as Classes 2.3 e 3.03.

- Gabinete de Imprensa do CNH: O Clube Naval da Horta continua a ser o único nos Açores a ter Classe Hansa?
- João Duarte: Com regularidade na prática, sim. O Clube Naval da Madalena dispõe, suponho que desde 2014, de uma embarcação 2.3, mas não está a desenvolver a modalidade. Adquiriu o equipamento, realizou algumas ações de sensibilização com o apoio do Clube Naval da Horta, o que resultou, mas este projeto requer ter pessoas a tempo inteiro.

- Gabinete de Imprensa do CNH: Há intenções de alargar a Classe Hansa a outros clubes navais da Região...
- João Duarte: A Associação Regional de Vela dos Açores (ARVA) tem 2 barcos Hansa da Classe 2.3 precisamente para promover este Projeto. Esses barcos percorreram todos os clubes navais da Região, mas ainda não há um feedback pelo facto de continuar a haver um pouco a ideia de que isto não é Vela.

- Gabinete de Imprensa do CNH: É o quê, uma brincadeira?
- João Duarte: É um desporto à parte. Penso que ao nível da comunidade náutica e daqueles que trabalham nestes clubes, quer dirigentes, quer treinadores, ainda não perceberam que estamos a falar de velejadores e, que, no mar estão em iguais circunstâncias com colegas de qualquer outra Classe. Isto é Vela.

- Gabinete de Imprensa do CNH: Consideram que há facilitismo na Classe Hansa?
- João Duarte: Não valorizam a Classe.

joao duarte 1 2017

- Gabinete de Imprensa do CNH: Essa desvalorização acontece por parte da classe política ou dos dirigentes desportivos?
- João Duarte: Estou a falar de clubes, treinadores, velejadores, dirigentes regionais...

- Gabinete de Imprensa do CNH: Tens esse feedback?
- João Duarte: Tenho esse sentimento.

- Gabinete de Imprensa do CNH: Disseram-te isso?
- João Duarte: Não, não disseram, eu é que sinto que os agentes desportivos da Vela não têm mostrado muito interesse em relação a este Projeto, caso contrário abordavam-me, colocavam questões quando há Provas Regionais e Festivais Internacionais a fim de perceber como funciona esta Classe. Mas a realidade é que ninguém quer saber, o que é muito visível sobretudo em relação aos treinadores. Para eles, isto é reabilitação ou outra coisa qualquer, mas não é Vela.

“Para os treinadores, a Classe Hansa não é Vela”

 

- Gabinete de Imprensa do CNH: O facto de não haver competição a nível regional é prejudicial para estes velejadores do Clube Naval da Horta?
- João Duarte: Obviamente que se houvesse competição regional era bom, pois quanto mais provas houver, melhor. A questão que se coloca aqui é ao nível do financiamento para as nossas deslocações ao Continente português. Se existisse um Campeonato Regional, teríamos apoio por parte da Direção Regional do Desporto. Sendo assim, é do orçamento do Clube que sai a verba para as nossas deslocações nacionais.

Se pudéssemos contar com um quadro competitivo na Região, podíamos participar nas 2 provas de apuramento que acontecem ao longo do ano, mas como não temos apoio para essas deslocações, não participamos. E nesse contexto também poderíamos começar a pensar em participações a nível internacional, uma vez que em termos nacionais estamos entre os melhores. Temos tido resultados que nos permitiriam, caso tivéssemos capacidade financeira, poder participar em Europeus. Neste quadro restritivo, apenas vamos ao Campeonato Nacional, porque atualmente a Associação também não tem verbas para um apoio mais efetivo. Ainda ponderámos participar este ano no Campeonato Europeu, que vai decorrer em França, penso que em Setembro, mas o montante necessário inviabilizou tal pretensão.

- Gabinete de Imprensa do CNH: E havia preparação técnica para essas participações fora de Portugal?
- João Duarte: Claro! Os velejadores da Classe Hansa do CNH estão entre os melhores do país. Em 2016 ficaram em 1º e 2º lugares no Campeonato Nacional.

- Gabinete de Imprensa do CNH: E mesmo assim, esses resultados não conseguem captar apoio?
- João Duarte: Pelos vistos, não.

- Gabinete de Imprensa do CNH: Como é que a ARVA olha para a Classe Hansa?
- João Duarte: Com muito interesse. Existe por parte da ARVA – e estou a falar desta nova Direção, que tomou posse este ano – grande vontade de viabilizar este Projeto.

- Gabinete de Imprensa do CNH: É difícil ao CNH manter esta Classe no ativo?
- João Duarte: Por enquanto tem sido possível, graças ao voluntariado dos técnicos e de uma série de pessoas, pois estamos a falar de um Projeto que já tem 6 anos e que vai acumulando algum cansaço.

- Gabinete de Imprensa do CNH: Mas os velejadores não se queixam de cansaço?
- João Duarte: Eles estão sempre bem. O problema é que esta é uma atividade que requer uma logística em terra, antes e depois dos treinos, que as outras classes não têm e que se prende com a mobilidade ou, neste caso, a falta dela.  

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A Classe Hansa requer uma logística em terra, antes e depois dos treinos, que as outras não têm

- Gabinete de Imprensa do CNH: Qual o balanço que pode ser feito a 6 anos de atividade?
- João Duarte: Existe muito boa vontade e motivação, mas é um Projeto longo, já  com 6 anos, que tem primado por uma atividade contínua e que requer uma reflexão sobre o que serão os próximos 6 anos.

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