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Festival Náutico 2017: Entrevista a Antas de Barros, o “pai” da Canoagem nos Açores

A prioridade do Presidente da ARCA é passar o testemunho, o que tem de ser feito com passos seguros

Falar em Canoagem nos Açores é sinónimo de Antas de Barros, o último bastião da persistência que leva este natural de Ponte da Barca a presidir à Associação Regional da Canoagem dos Açores (ARCA) desde 2000. Aliás, foi graças a este canoísta – há 30 anos ligado à modalidade – que foi criada a Associação Regional.

Volvidas 3 décadas, o “pai” da Canoagem nos Açores, dá o tudo por tudo para fazer a passagem do testemunho, mas confessa que não tem sido fácil envolver alguém nesta relação, que ele conhece como mais ninguém. Aproveitando a participação no Festival Náutico, o Gabinete de Imprensa do Clube Naval da Horta (CNH) conversou com Antas de Barros, que, após este “lavar de alma”, teve de almoçar fora de horas.

“Só neste mandato é que consegui que a Direcção fosse repartida”

Gabinete de Imprensa do CNH: Este é o seu último mandato à frente da ARCA?

Antas de Barros: Gostava que assim fosse. Encontro-me no 1º ano deste mandato de 4 e em fase de transição, ou seja, pretendo passar a pasta ao meu sucessor, mas é preciso envolver essa pessoa nesta missão.

Gabinete de Imprensa do CNH: Tem sido sempre o seu Clube, ou seja, o Ar Livre da Terceira na presidência?

Antas de Barros: Há muito que venho tentando que a Direcção contasse com elementos de outras ilhas, o que só foi conseguido neste mandato, em que é repartida com São Miguel. Além dos Cubes Ar Livre e Angra Iate Clube, da Terceira, há ainda o Clube da Lagoa (São Miguel) na Direcção. Também gostava que tivesse alguém do Faial, mas a pessoa mais abalizada para isso, que era o Francisco Bettencourt, encontra-se focado noutros projectos e não foi possível esse desiderato. Mas está a funcionar bem, com destaque para a coordenação verificada com os clubes de São Miguel. Era difícil envolvê-los.

Registo com muito agrado que este é o segundo ano consecutivo que São Miguel vem ao Faial participar no Regional de Canoagem.

Gabinete de Imprensa do CNH: Esta Prova do Campeonato Regional de Canoagem de Mar, realizada este sábado (dia 5), no Faial, correu bem?

Antas de Barros: Além da envolvência registada em relação a São Miguel, este ano alcançou-se outra vitória, que foi o facto de São Roque (Pico) vir ao Faial. É preciso não se perder isso e manter o bom que se conseguiu até ao momento.

Gabinete de Imprensa do CNH: Qual a radiografia que faz da Canoagem nos Açores?

Antas de Barros: São Miguel tem ainda muito que crescer nas categorias de formação, havendo primazia nos Séniores e Veteranos. Digamos que está nos 75%. Na Terceira, a percentagem é de 50% relativamente aos diferentes escalões e, no Faial, há um grande equilíbrio do número de canoístas em todos os escalões.

“Nenhuma ilha tem um clube com a dinâmica do CNH”

Gabinete de Imprensa do CNH: Mas o Clube Naval da Horta queixa-se da falta de competição...

Antas de Barros: Nenhuma ilha dos Açores tem um clube com a dinâmica do Clube Naval da Horta. Quando o CNH acarinha uma modalidade, mostra logo sinais de evolução. Está à vista de todos a evolução que a Canoagem teve esta época. Considero que o problema reside no facto de as Direcções dos Clubes não olharem com carinho para a Canoagem. A Vela é que é tudo e o Jet-Ski e outras, enquanto que a Canoagem é o pé no chinelo. Mas para o Presidente do CNH, José Decq Mota, a Canoagem está em pé de igualdade com as outras modalidades.

É louvável o trabalho da Susana Rosa à frente da Secção de Canoagem do CNH e noto muito que o Gabinete de Imprensa do Clube Naval da Horta tem olhado para a Canoagem. Só pela forma como as notícias são feitas, percebe-se a importância que a Canoagem tem para este Clube. Felicito o Gabinete de Imprensa pelo trabalho desenvolvido. Aliás, quando li as notícias que iam sendo publicadas pelo CNH, já sabia que íamos ter uma equipa para se defrontar ombro a ombro com os da Terceira. Já tinha avisado os meus canoístas dessa realidade.

Naturalmente que esta evolução também é fruto do trabalho do Hugo Parra (Treinador), algo que consome imenso tempo, dedicação e empenho.

 Gabinete de Imprensa do CNH: O Clube Naval da Horta está numa ilha que tem o mar como centralidade...

Antas de Barros: Na Horta, respira-se mar e há uma elite ligada ao mar. Há uma apetência por este porto e basta ver o iatismo que aqui aflui. O faialense é desportista náutico por natureza. Na Terceira, só vai para o mar quem não tem nada para fazer em terra. Ir para o mar é visto como o último recurso. Ser pescador é algo quase marginal.

 “No Faial, os Voluntários perguntam se é preciso ajudar”

Gabinete de Imprensa do CNH: Este Clube consegue envolver a sociedade, nomeadamente os Sócios, os Voluntários...

Antas de Barros: O Clube Naval da Horta brilha exactamente pelo corpo de Voluntários de que dispõe. Na Terceira também há, mas não no grau de grandeza do que se verifica no Faial. Aqui, os Voluntários perguntam se é preciso ajudar e a sua colaboração é quase espontânea. É claro que isso permite um conforto enorme para uma Direcção se abalançar a organizações de outro nível.

Na Terceira não faltam voluntários para touradas nem para o Espírito Santo. De resto...

Gabinete de Imprensa do CNH: A sua vida foi sempre ligada à Canoagem?

Antas de Barros: Aos 14 anos comecei a praticar Canoagem, aos 18 era Treinador e partir de 1994 passei a ser Dirigente. Desde 1989 que venho à Horta em competições. Pode ter havido um outro interregno, mas são praticamente 30 anos de Canoagem.

Posso dizer que sou limiano. Na minha juventude comecei a navegar naquelas águas, com as quais tenho uma ligação muito grande.

Gabinete de Imprensa do CNH: Encara a Canoagem como uma vocação ou uma missão?

Antas de Barros: A Canoagem precisava de mim. Se eu me dedicasse a outras coisas, ela iria passar por momentos muito difíceis. Se não fosse eu, não haveria um prazo para sustentar o que tinha sido alcançado, ou seja, iria haver um vazio no dirigismo por falta de sucessor.

“Gostaria que o que foi alcançado não fosse deitado a perder”

Gabinete de Imprensa do CNH: E se não se perfilar um sucessor?

Antas de Barros: Se não houver um sucessor, haverá uma comissão interina. Quero passar a ser só Presidente e Treinador do Clube Ar Livre. Vou continuar a dar apoio à Direcção da ARCA, mas passo para segunda linha.

Gabinete de Imprensa do CNH: É degastante?...

Antas de Barros: Ao longo destas décadas, já passei por fases de exaustão e superei e voltei a acusar cansaço. Desde algum tempo, que o meu plano tem sido voar baixinho, como os cagarros. E por isso acusam-me de falta de ambição e eu admito isso, mas quem abraça projectos grandes, logo a seguir diz: “Venha outro para o meu lugar, porque já não posso”. Tenho a missão de dar continuidade e, como tal, deixei-me de organizações. Defendo participação com alguma contenção, pois gostaria que o que foi alcançado não fosse deitado a perder. Organizações nacionais são muito bonitas mas, para mim, mérito é aguentar.

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“Quero passar a ser só Presidente e Treinador do Clube Ar Livre”

 Gabinete de Imprensa do CNH: Tem havido apoio por parte do Governo?

Antas de Barros: Deixou de haver critérios na atribuição de apoios, o que provoca desmotivação. É mau quando encontramos pessoas na tutela que são técnicos para quem só contam números, estatísticas, não conseguindo ver o trabalho feito e a evolução alcançada. Só querem resultados imediatos.

“Recorro sempre aos meus ‘criadores secos’”

Gabinete de Imprensa do CNH: A sua persistência é uma questão de gosto...

Antas de Barros: O que faço é amadorismo e amor à camisola, e entendo que isso merecia mais respeito, consideração e carinho. A Canoagem, sendo uma modalidade que não tem visibilidade imediata, depende quase só dos subsídios do Governo. E ao terem-nos na mão, fazem o que querem e entendem. Contudo, penso que isto que está a acontecer é um mal que vem por bem. É preciso assegurar a liderança da Canoagem na Região. Portanto, vai ter que se criar um vazio, sem ter o “paizinho”, e encontrar alternativas.

Gabinete de Imprensa do CNH: O Clube Ar Livre conta com muitos atletas?

Antas de Barros: Tem 52 atletas inscritos na Federação, mas praticantes são um grupo de 20. Todos os que já passaram pelo Clube não se desligam e têm por norma inscreverem-se e colaborarem na organização de provas e actividades. Claro que tenho sempre o cuidado de os chamar.

Na Terceira há vários Impérios do Espírito Santo e os criadores de gado oferecem animais. Os que não têm animais, que são os chamados “criadores secos”, oferecem esse valor em dinheiro. Adaptando à minha situação, a Canoagem é o meu Império e os antigos canoístas são os meus “criadores secos”.

Gabinete de Imprensa do CNH: Conta com o apoio familiar ou isso tem sido outra batalha paralela na sua vida?

Antas de Barros: Já foi difícil conciliar tudo, pois esta dedicação à Canoagem prejudica a família. A solução foi envolver a minha mulher, Vitalina Antas de Barros, que é a minha Treinadora-Adjunta, a minha atleta veterana e a minha grande rectaguarda e apoio. Ela tem plena consciência disto tudo.

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