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Com o apoio do CNH – Atletas da Rota dos Baleeiros tiveram enquadramento histórico e passeio nos Botes Baleeiros
José Decq Mota fez o enquadramento histórico da caça à baleia e do bote baleeiro
Mais de 40 inscritos na Grande Rota dos Baleeiros ficaram a conhecer melhor a história da baleação e do bote baleeiro, nos Açores e em particular no Faial. O enquadramento histórico da saga que marcou a economia açoriana, sobretudo das ilhas Faial e Pico, foi sucintamente abordado por José Decq Mota, Presidente da Direcção do Clube Naval da Horta (CNH), na tarde desta quinta-feira, dia 24.
Na rampa de varagem, ao lado dos botes baleeiros, o mais alto dirigente desta instituição náutica faialense dissertou sobre a história deste património, ao que se seguiu a parte prática, que é como quem diz, o passeio nestas embarcações.
O pedido de colaboração partiu de Mário Leal, o rosto da organização do evento: Azores Trail Run.
O Presidente do CNH falou com o à vontade que o caracteriza e os atletas escutaram atentamente
Caça à baleia: património recuperado, história revivida
Este Responsável recordou que a caça à baleia terminou nos Açores em 1984, tendo o bote baleeiro sido a embarcação usada nesta faina.
Primeiramente, a forma de continuar a dar uso ao bote baleeiro surgiu espontaneamente, ao que se seguiu um regime organizado. Para tanto, os botes foram recuperados e classificados surgindo um movimento organizado.
José Decq Mota sustentou que “estas embarcações são usadas em termos lúdicos e desportivos por uma massa humana muito grande, que participa em regatas, passeios, etc”.
Trata-se de uma embarcação comprida, com 11 a 12 metros, tendo de boca (largura) menos de 2 metros, que operava a remos ou à vela numa caça artesanal. Os baleeiros atiravam o arpão que ficava ligado por um fio que se encontrava na embarcação e ia sendo puxado. No século XX era usada uma lancha que rebocava os botes e as baleias já mortas.
“Portugal aderiu, e bem, ao convénio, que impôs a caça à baleia”, frisou este Dirigente. Na sequência dessa proibição, foi criado um quadro legislativo, havendo a Comissão do Património Baleeiro (tutelada pela Secretaria da Cultura) e um fundo próprio. A primeira legislação foi criada em 1998 e revista em 2014.
No Pico existem 23 botes e no Faial 8. Nos Açores são 43. As lanchas atingem as 11 em toda a Região.
Alguns botes pertencem à Região Autónoma dos Açores, encontrando-se os mesmos protocolados com Juntas de Freguesia, Clubes e outras instituições. O CNH dispõe de 2 botes baleeiros, sendo proprietário de 1 ao passo que o outro é da Região, que o comprou a um armador.
A lancha “Walkiria” – conhecida como a “Rainha dos Mares dos Açores” – é pertença da Câmara Municipal da Horta, encontrando-se cedida ao CNH ao abrigo de um protocolo.
Os botes foram fotografados e muito apreciados
O Presidente da Direcção do CNH salientou que, embora também tenha sido recuperado património baleeiro nalgumas zonas do país, “os Açores são a região de Portugal onde a recuperação e utilização deste património marítimo é mais significativa.”
“Este movimento, resultante da conjugação de boas vontades, conhecimento e empenho, é detentor de um grande vigor nos Açores”, vincou José Decq Mota, ele próprio um forte entusista desta mobilização, e que desde a primeira hora pugnou pela sua recuperação e classificação, sendo profundo conhecedor da importância e necessidade da preservação deste valioso e singular património.
Sempre zeloso e atento à segurança, o Presidente da Direcção do CNH aconselhou o uso do colete e alvitrou: “Apesar de não serem embarcações perigosas, pode acontecer algum acidente”.
Neste passeio, o CNH disponibilizou, ainda, dois barcos de apoio.
Antes de começar a parte prática, José Decq Mota desejou a todos os atletas uma excelente Rota dos Baleeiros, agradecendo o interesse demonstrado neste breve, mas muito útil, enquadramento teórico.
Rota dos Baleeiros: 80 atletas, 117 kms
Da teoria à prática
Neste ano de 2018, a 5ª Edição do Azores Trail Run conta com a participação de mais de 750 atletas, ultrapassando as 20 nacionalidades.
A Grande Rota dos Baleeiros tem a particularidade de, este ano, pertencer ao restrito Circuito Internacional Ultra-Trail World Tour, com categoria de Discovery Race, integrando os circuitos da Associação de Trail Running de Portugal (ATRP), o que representa uma grande honra para os Açores.
Com competições disputadas em cenários diversos pelos vários continentes, as corridas Ulta-Trail World Tour têm valores comuns, tais como a ética, a igualdade, o respeito pelos outros e pelo meio ambiente e ‘fairplay’, entre outros.
Participar neste evento é ter a oportunidade de descobrir diferenças culturais e desportivas em cada um dos 5 continentes.
De assinalar que o Azores Trail Run é já o maior evento de desporto de natureza dos Açores, assumindo uma importância crucial para a ilha do Faial, em termos de divulgação e projecção turística, além de outras mais-valias.
Em declarações ao Gabinete de Imprensa do CNH, Mário Leal referiu que a Grande Rota dos Baleeiros percorre os trilhos que estão ligados ao património edificado baleeiro: rampas de varagem, vigias, portos, indústria baleeira, etc.
A partida da Grande Rota dos Baleeiros acontece pelas 22 horas desta sexta-feira, dia 25, do porto do Salão, em que os participantes seguirão em direcção aos Cedros, passando pela Vigia desta freguesia. Depois, continuarão até à Praia do Norte, com passagem pela Fajã, costa desta localidade, Canada das Adegas, porto do Comprido, Casa do Bote e Varadouro, dirigindo-se para a estrada do mato até à Falca, descendo pelos Flamengos, passando pela Laginha, Forte de São Sebastião, Fábricas da Baleia, Observatório Príncipe Alberto do Mónaco, a caminho da Ribeirinha, de onde atravessarão a ilha até à meta, que é o Vulcão dos Capelinhos.
Este percurso de dois dias – 25 e 26, sexta e sábado – envolve 117 quilómetros, caracterizado por “um grau de dificuldade grande pelo facto de ser longo”, acentua Mário Leal, que nota: “Acresce a dificuldade dos pisos, e embora em termos de relevo a ilha não seja muito montanhosa, deparamo-nos com formações vulcânicas o que torna a caminhada difícil. Além de tudo isto, se chover é preciso contar com piso escorregadio e lamacento. Com calor, também não é fácil”.
“Uma Rota carregada de história e cultura”
Estão inscritos cerca de 80 amantes da natureza (além de jornalistas e atletas convidados) que reúnem 10 nacionalidades.
Mário Leal explica que “percursos superiores a 100 quilómetros atraem mais pessoas nacionais e estrangeiras”. E quando se pergunta o que os move, responde: “Vêm atrás do desafio e de explorar um território novo, onde encontram subidas, montanhas, etc. Ficam muito satisfeitas com este cenário”.
“Não se trata de correr só por correr mas de fazer um circuito que integra a rede regional de trilhos pedestres, carregada de história e cultura”, realça este dirigente, lembrando que a iniciativa contempla áreas do Parque Natural do Faial.
Aliado a tudo isto, surge “a grande procura” por estes trilhos que permitem caminhar a pé, ter contacto com a natureza, aprender sobre o passado e conhecer o presente, constituindo uma forte aposta no equilíbrio da vida moderna, pautada por constante agitação.
Os baleeiros dos novos tempos
“Muitas pessoas já nos manifestaram grande satisfação pelo facto de os trilhos terem sido recuperados, e muitas contam histórias que viveram nestes caminhos, que eram frequentemente utilizados pelo nosso povo”, destaca Mário Leal.
Através dos trilhos, é possível qualquer pessoa que se encontre, por exemplo, no Hotel Fayal, sair e ir até ao Vulcão dos Capelinhos, o que lhe permite conhecer a ilha e a sua história.
Reinou a boa disposição entre aqueles que fizeram o passeio numa perspectiva pedagógica
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