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School at Sea: Jorge Medeiros, Carolina Salema e Emília Vieira Branco planeiam ir pelas escolas divulgar o projeto e cativar novos velejadores

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Jorge Medeiros, Carolina Salema e Emília Vieira Branco estiveram embarcados 6 meses no veleiro holandês “Regina Maris”

School at Sea é um projeto educativo holandês, que reúne alunos do ensino secundário com idades entre os 14 e os 17 anos. A bordo do “Regina Maris”, jovens de várias nacionalidades viveram 6 meses de experiências únicas e incríveis que os deixaram mais preparados enquanto velejadores e cidadãos.

Depois dos alunos do Faial, Júlia Vieira Branco e Bartolomeu Ribeiro, os últimos “marinheiros” faialenses a embarcarem nesta aventura foram Emília Vieira Branco, Carolina Salema e Jorge Medeiros, todos com a mesma idade (17 anos) e alunos da Escola Secundária Manuel de Arriaga (ESMA), da Horta (elas da mesma turma).

Estes 3 jovens reviveram esse decisivo marco na sua vida ao partilharem com o Gabinete de Imprensa do Clube Naval da Horta (CNH) as vivências de 180 dias, essencialmente passados no mar, em terras longínquas, longe da família, da escola e dos amigos, mas com tarefas de bordo – incluindo os trabalhos escolares – para fazer diariamente.

A experiência de todos eles tem sido fundamental no sentido de cativar novos actores para esta aprendizagem intensiva e muito diversificada, que incluiu, também, muitas brincadeiras e novas amizades.

Uma experiência multicultural  e de desenvolvimento pessoal

Gabinete de Imprensa do CNH: Como descreves esta experiência marcante e decisiva na tua vida?
Emília Vieira Branco: A vida a bordo de um veleiro de 50 metros combinou várias vertentes de desenvolvimento, entre as quais a do currículo académico regular que temos nas nossas escolas e que cumprimos na mesma, no barco. Para além disso, combinou, também, a vertente de mar e de Vela com a vertente multicultural e desenvolvimento pessoal e social que, naturalmente está associada à vida com outras 40 pessoas, num barco bastante pequeno.

Gabinete de Imprensa do CNH: O número de pessoas a bordo foi sempre o mesmo ao longo deste tempo?
Emília Vieira Branco: A tripulação foi variando ao longo da viagem, porque entraram e saíram elementos. Os alunos é que tiveram um tempo fixo, que são 6 meses, que mediaram de 15 de outubro de 2016 a 15 de abril deste ano.

Gabinete de Imprensa do CNH: Como é que surge a oportunidade de participarem?
Jorge Medeiros: A Júlia (irmã da Emília) e o Bartolomeu Ribeiro, que praticaram Vela no CNH, já tinham feito esta aventura em 2014. Depois de terem visitado o barco, que faz sempre escala na Horta, tentaram ser aceites no School at Sea, e conseguiram. A partir daí, ganhámos uma certa motivação, porque percebemos que não era impossível e começámos a trabalhar em conjunto.

Gabinete de Imprensa do CNH: Quais são os requisitos para aceder a este projeto?
Carolina Salema: É necessário pagar 21 mil euros de propinas. Para isso, temos de angariar patrocinadores, que podem ser de qualquer parte do mundo. Embora se trate de um processo individual, colaborámos uns com os outros. Não foi nada fácil, mas conseguimos alguns patrocínios.


Gabinete de Imprensa do CNH: O que é que os patrocinadores ganham por vos dar apoio?
Emília Vieira Branco: Projeção, divulgação... Sempre que damos entrevistas, tentamos divulgar ao máximo os nomes dos nossos patrocinadores.
Empresas e grupos interessados nesta iniciativa acabam por ficar ligados a um projeto que tem pés para andar e que pode estar associado a um movimento de trazer novidade à escola e ao sistema educativo em que nós vivemos agora.

Melhores notas a bordo do que na Escola

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Jorge Medeiros, em Cabo Verde

Gabinete de Imprensa do CNH: Como é que decorria o estudo a bordo?
Emília Vieira Branco: Tínhamos o nosso material de estudo, que em parte foi fornecido pelos professores, como as fichas de trabalho e outro, e depois tínhamos também os nossos livros. Estudámos por esses livros, de forma individual e uns com os outros, e contávamos com o apoio dos professores a bordo, mas não havia aulas. Apenas esclarecimento de dúvidas. Existia a figura do diretor de projeto, que fazia a ponte entre a escola e os alunos e foram sendo enviados testes, que não contaram para nota.

Gabinete de Imprensa do CNH: Isso significa que ficaram com muito trabalho em atraso relativamente aos vossos colegas?
Emília Vieira Branco: Quando chegámos ao Faial fomos obrigados a realizar frequências, mas já sabíamos de antemão que ia ser assim. Fizemos sempre todos os testes a bordo como se fosse uma preparação para os exames que fizemos quando chegámos. Os nossos professores de terra enviavam-nos os mesmos testes que eram feitos cá, no Faial, e como cada um tinha um mentor a bordo, organizava com ele o seu plano de estudo e dizia-lhe quando é que queria fazer os testes, que depois eram enviados para a escola, que corrigia e nos enviava de volta. Mas, apesar de termos feito tudo como os nossos colegas de terra, nada disso contou para a nota do fim do ano. Naturalmente que tudo o que fizemos serviu para aprendermos e sabermos em que ponto estávamos, mas em termos de nota só o que fizemos depois de chegar é que efetivamente contou.

Gabinete de Imprensa do CNH: Esta foi uma situação vivida em particular por causa do sistema de ensino português?
Emília Vieira Branco: Alguns holandeses debateram-se com a mesma situação pelo facto de o sistema de ensino ser como o nosso. Mas, na maior parte dos casos, todo o trabalho que os alunos embarcados fizeram contou para nota.

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Emília Vieira Branco (bem acompanhada) na passagem por Domínica

Gabinete de Imprensa do CNH: É uma situação um tão ou quanto injusta?...
Emília Vieira Branco: Pessoalmente, acho que não faz sentido, pois fizemos todos o mesmo trabalho, mas só porque estávamos embarcados, isso não foi tido em conta. É difícil chegar à escola (ao Faial) e perceber que temos 2 testes que valem 95% da nossa nota do 12º ano e que é só em função disso que vamos ser avaliados em termos de nota final. É  algo que coloca muita pressão em cima de nós, sendo mesmo desproporcional.
Em termos de vida escolar, esta viagem veio pôr as coisas numa situação diferente, mas valeu a pena, pois nós evoluímos e aprendemos tanto e de tantas maneiras diferentes, que só pode ser altamente positivo! E, definitivamente, houve espaço para a escola.
Jorge Medeiros: Eu até subi as notas! Como o tempo para estudar era tão limitado, focávamo-nos em estudar mesmo a sério, o que não acontece sempre na escola, porque sabemos que temos tempo. E lá, tinha de ser mesmo na altura, o que fazia com que me focasse e os resultados fossem muito melhores. É claro que esta situação dos exames foi complicada, mas tudo se resolve.

Gabinete de Imprensa do CNH: Mas vocês foram previamente informados de tudo?
Emília Vieira Branco: Contactámos a Direção Regional de Educação e foram esses os termos acordados relativos à nossa participação.

Gabinete de Imprensa do CNH: Tirando a parte do estudo, como era a vida a bordo, com tanta gente?
Carolina Salema: Tínhamos turnos de dia e de noite. Nuns turnos tínhamos de limpar as casas de banho, e eram várias, noutros estávamos na cozinha, havendo escalas rotativas para as tarefas.
Jorge Medeiros: Nos turnos éramos responsáveis por todas as tarefas de navegação, ou seja, por tudo o que fosse controlar o barco, içar velas, baixar velas, etc. Sabíamos algumas coisas básicas da Vela – eu, por exemplo, fiz Vela no CNH – mas tivemos de aprender muita coisa.
Emília Vieira Branco: Éramos mais ou menos 40 a bordo, incluindo a tripulação, os professores e o coordenador pedagógico. Cada um tinha um mentor, que era o professor. As conversas eram quase sempre em inglês, o que fez com que se tenha aprendido. Várias pessoas não estavam muito confortáveis com este idioma, mas ao longo do tempo foram evoluindo, porque era praticamente tudo em inglês. Falávamos português entre nós e com a colega do Brasil. Paralelamente às tarefas, também havia muita brincadeira. O computador era usado apenas para trabalho da escola e de bordo.

Gabinete de Imprensa do CNH: O cozinheiro era prendado?
Emília Vieira Branco: Durante os primeiros 4 meses tivemos um chef que funcionava como desafiador e professor! Só cozinhou connosco ao longo da primeira semana e depois disso foi ensinando-nos a ser mais autónomos e eficazes na cozinha e, acima de tudo, ensinou-nos a adorar a cozinhar! As refeições eram boas. Ao fim de grandes tiradas no mar, ficávamos sem legumes frescos e a massa foi um elemento bastante frequente! O lema do nosso capitão era: “Antes a mais do que a menos!”

Gabinete de Imprensa do CNH: O que é que foi mais difícil a bordo?
Jorge Medeiros: Cumprir um horário.
Carolina Salema: E a barreira da língua. Eles falavam holandês e nós português e inglês. Eles falavam em inglês só que às vezes em grupo mudavam para o holandês. No início, praticamente só falavam em holandês, por ser a língua originária do projeto, embora seja aberto a alunos de todo o mundo.
No barco havia um sino, que podia ser tocado por qualquer pessoa sempre que havia algo a comunicar, mas nessas ocasiões a conversa era sempre em holandês, o que nos excluiu um pouco no início, mas depois mudou e ficou tudo bem.
Jorge Medeiros: Eles estão a internacionalizar o projeto. Já reconheceram que é crucial mudarem e será o próximo passo a dar. O capitão traduzia as conversas do holandês para  inglês no sentido de percebermos. Houve sempre comunicação, podia era não abranger a totalidade das conversas.  

Gabinete de Imprensa do CNH: O sino era uma constante?
Carolina Salema: O sino tocava sempre que era para fazer comunicados gerais, que tanto podiam ser referentes a coisas boas como más. Mais para o fim da viagem, o capitão percebeu que tinham de ser feitos em inglês. Mas aprendemos holandês e gostámos muito.

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Carolina Salema com o seu novo amigo, em Domínica

Gabinete de Imprensa do CNH: Já conseguem entender-se em holandês?
Carolina Salema: Conseguimos perceber mais do que propriamente falar.
Emília Vieira Branco: É uma língua bastante diferente.
Fizemos amigos e as mensagens trocadas já são num misto de inglês e holandês. Ensinámos aos holandeses algumas coisas em português e eles acharam que era russo. (Risos...).
Carolina Salema: Para ficarmos com uma ideia, o holandês deles é um inglês mau.

Gabinete de Imprensa do CNH: Gostavam de repetir a experiência?
Jorge Medeiros: Sim, se fosse possível.
Emília Vieira Branco: Exatamente o mesmo projeto não, mas fazer um outro nos mesmos moldes, talvez.

Gabinete de Imprensa do CNH: Qual era a média de idades?
Emília Vieira Branco: Entre os 16 e os 17 anos, havendo alunos mais novos, com 14, 15... Nós erámos os mais velhos. E havia mais raparigas do que rapazes.
Jorge Medeiros: Havia muito mais raparigas!

Gabinete de Imprensa do CNH: Achas que isso se deve a quê?
Jorge Medeiros: Ao facto de elas serem muito mais persistentes do que os rapazes.

Gabinete de Imprensa do CNH: Angariar patrocinadores não deve ter sido missão nada fácil...
Emília Vieira Branco: Fazer angariação de fundos é um processo bastante frustrante.

Natal em Curaçau, com sol e calor

Gabinete de Imprensa do CNH: Qual foi o percurso?
Carolina Salena: A viagem começou em Amsterdão, na Holanda, e depois ainda fomos para outro sítio na Holanda. Daí, partimos para o mar porque antes só tínhamos andado nos canais. Depois fizemos Tenerife, Cabo Verde, a travessia do Atlântico, Domínica (o primeiro sítio em que tivemos após a travessia), Curaçau (onde passámos o Natal), Aruba (onde aconteceu a Passagem de Ano), San Blas, Panamá, Cuba, Bermuda, Faial (a 3 semanas do fim da viagem), Cherbough e novamente Holanda.
Jorge Medeiros: Acho que o fim foi o melhor.

Gabinete de Imprensa do CNH: Acusavam cansaço?
Jorge Medeiros: Não, muito pelo contrário.
Carolina Salema: A cama era confortável. Os quartos eram para 4 pessoas, com beliches. Mudámos de quarto várias vezes e só da última é que nos deram hipótese de escolhermos os companheiros de quarto.

Gabinete de Imprensa do CNH: Como foi passar o Natal fora de casa, longe da família? Deve ter sido o vosso primeiro Natal nestas circunstâncias...
Emília Vieira Branco: No dia 24 acordámos e percebemos que tínhamos um pequeno- almoço super-especial, com uns guardanapos muito bonitos e as mesas muito bem decoradas. A sala onde costumávamos conviver tinha umas fitinhas a dizer “Merry Christmas” e estava enfeitada como nunca a tínhamos visto.
Num dado momento tocou o sino e estava toda a gente à volta dos presentes, que as nossas famílias puseram no barco.
Jorge Medeiros: Foi o Natal mais quente, porque estava calor em Curaçau. Na rua, havia decorações de Natal, mas estava sol, calor. Foi um Natal muito estranho. Não parecia que era Natal até termos recebido as prendas.
Emília Vieira Branco: Passámos o dia 25 na praia, de fato de banho. E fizemos um churrasco de Natal.
Jorge Medeiros: No dia 24, alguns grupos foram à praia. Fui a uma praia que tinha uma árvore de Natal no meio do areal.
Carolina Salema: Sendo o Natal um tempo familiar, naturalmente que tínhamos saudades de casa.
Jorge Medeiros:  Na Passagem de Ano, o navio estava ancorado e quando lançaram o fogo de artifício, toda a gente saltou para a água mesmo com a roupa.
Emília Vieira Branco: Quando foi para celebrar a chegada do Novo Ano, nós os 3 decidimos que queríamos pôr toda a gente no barco a comer as 12 passas. E fizemos 44 embrulhinhos, porque na altura éramos 44 a bordo, e entregámos um a cada pessoa, e nos últimos 12 segundos estávamos todos as comer passas e a fazer a contagem decrescente.

Gabinete de Imprensa do CNH: De onde eram os colegas? Apreciaram a vossa iniciativa?
Emília Vieira Branco: Havia 2 alemães, 2 belgas e 1 semi-francesa. Eles gostaram! Foi divertido. Não houve champanhe, por não ser permitido álcool a bordo, por isso brindámos com sumo de maçã.

Alunos assumiam as rédeas do barco

Gabinete de Imprensa do CNH: Que lembranças trouxeram?
Carolina Salema: Conchas, areia e coisinhas que fui comprando, além de acontecimentos.
Emília Vieira Branco: Tínhamos um dia livre quando chegávamos a cada porto e podíamos explorar esse novo local em grupos de 3. Aproveitávamos o tempo livre para falar com a família. Não tínhamos telefone no barco. Uma parte muito significativa do tempo livre era despendida a ver onde podíamos encontrar Wi-Fi para contactar para casa, o que foi muito difícil nalguns sítios.

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Cabo Verde integrou a rota desta viagem de 6 meses

Gabinete de Imprensa do CNH: Recordam alguma atividade marcante?
Emília Vieira Branco: Tínhamos uma atividade que aconteceu 4 ou 5 vezes ao longo da viagem em que nós, alunos, assumimos todas as funções do barco. Candidatávamo-nos a determinadas posições – capitão, membro da tripulação, cozinheiro, etc – escrevíamos uma carta ao capitão que depois decidia quem é que ia fazer o quê. Isto acontecia quando estávamos mais ou menos a 300 milhas de chegar a um porto. Na vez antes de chegarmos aos Açores, o Jorge foi o capitão do barco. Era sempre  uma parte giríssima da viagem, porque nós é que tomávamos as rédeas do barco.
Jorge Medeiros: Houve uma outra atividade que realizámos em Cuba e no Panamá.  
Quando chegámos ao Panamá, dividimo-nos em grupos de 6/7 pessoas – incluindo o professor que estava connosco, mas apenas por uma questão de segurança – e já em  terra decidimos qual o rumo a tomar. O desafio era conseguirmos sobreviver com 20 dólares por dia, cada um. Como tal, tínhamos de nos organizar e pensar para onde queríamos ir e qual o meio de transporte a usar. O dinheiro tinha de dar para deslocações, alojamento, alimentação e atividades.
Carolina Salema: No Panamá, fomos de um local para outro, por terra, e o barco seguiu sem nós. Tivemos uma semana livre para passear. Conseguimos sobreviver com o dinheiro que nos deram.
Emília Vieira Branco: Nós fazíamos entregas mensais relativas às propinas acordadas e sempre que precisávamos de dinheiro era alguém do barco que nos dava.  
Carolina Salema: Se tivéssemos feito esta viagem de outra forma, teríamos gasto muito mais!
Jorge Medeiros: Aprendemos tanto nestes meses! A parte mais importante deste projeto é que os holandeses tentam sempre melhorar de ano para ano. Fizeram-nos perguntas no sentido de saber o que correu menos bem e que poderá ser melhorado.  Este projeto, apesar de já estar espetacular, ainda vai melhorar muito mais! Se bem que vai ser difícil. Deviam ser 9 meses de viagem!

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Jorge Medeiros, na travessia do Atlântico

Gabinete de Imprensa do CNH: As vossas famílias concordaram com esta aventura e apoiaram vocês?
Jorge Medeiros: A minha família concordou, mas nunca acreditou que fosse acontecer. Depois, percebeu que ia ser uma realidade e que eu estava a trabalhar por isso.
Carolina Salema: A minha mãe como trabalha na Escola, já conhecia o projeto, o que também aconteceu através da Júlia, e por isso os meus pais apoiaram desde logo.
Emília Vieira Branco: Quando me apercebi de que o School at Sea tinha tudo o que eu poderia querer num projeto, não podia esperar mais nada da minha família, porque eu disse-lhes isso, conversámos e a partir do momento em que decidi apostar a sério, pus uma parte significativa da minha força e energia na angariação de patrocínios. A minha família apoiou-me de uma forma incrível! Apoiou-me em ideias, em conforto e em ultrapassar a frustração que, naturalmente está associada a estes projetos, que são bastante longos e cansativos. Mas mantive sempre a esperança e acreditei que seria possível, pois só sonhando é que conseguimos!

“Foi a perspetiva de vir a aprender tanto que me cativou assim”

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Emília, no Panamá

Gabinete de Imprensa do CNH: Por que razão este projeto era assim tão importante para ti?
Emília Vieira Branco: Porque tem tudo o que eu quero; porque me permitiu fazer a escola normal associada a todas estas características que a tornam numa experiência única. Faço o meu currículo normal académico e, para além disso, vivo no mar, aprendo a velejar, vivo com outras 40 pessoas, conheço 13 lugares diferentes e pessoas diferentes e experiências diferentes. Tudo isto reunido acabou por ser uma vertente muito importante para o meu desenvolvimento pessoal, que eu há muito procurava. Perguntava-me sempre: “Como é que eu posso desenvolver-me, aprender a olhar para o mundo de forma diferente?” Foi a perspetiva de vir a aprender tanto e ver tanto ao mesmo tempo, que me cativou assim.
Carolina Salema: No ano em que conheci o projeto fiquei muito entusiasmada, mas depois decidi não ir, porque achei que seria muito complicado. No entanto, depois de a Júlia e o Bartolomeu terem ido, pensei: “Se eles foram, também devo tentar, senão depois vou arrepender-me”.
Jorge Medeiros: Quando pensei em concorrer, ainda não sabia da intenção da Emília e da Carolina. Já tinha falado com a Júlia e o Bartolomeu e mais tarde soube que a Emília estava interessada e aí pensei que se calhar ia conseguir. Mas logo a seguir percebi que ia ser muito difícil, pois era muito dinheiro... mas a Emília convenceu-me e começámos a apoiarmo-nos, mas sempre trabalhando de forma individual.

Gabinete de Imprensa do CNH: Como caracterizam esta viagem?
Jorge Medeiros: Uma lavagem cerebral, no bom sentido.
Carolina Salema: Foram 6 meses de experiências diárias e novas. Aprender coisas novas todos os dias faz uma diferença enorme e ajuda-nos a crescer, mudando a pessoa que somos. Obviamente que sou a mesma pessoa e sei como é que sou. No entanto, tenho uma visão diferente do mundo, mas também de mim.
Emília Vieira Branco: Acho que foi um bocadinho a lavagem cerebral positiva que o Jorge dizia, pois separou muitas peças diferentes do enorme puzzle que nós somos. E acabou por dar um sentido muito diferente a coisas que estavam presentes nas nossas vidas. O projeto trouxe uma visão muito realista do mundo e uma visão de como eu me sinto em relação a mim própria. Nunca me tinha sentido como senti no barco.
Aqueles 6 meses foram, talvez, os mais desafiadores da minha vida e vivia com desafios diários e num ambiente que não era o meu. É claro que, gradualmente se foi tornando o meu ambiente, mas estamos a falar de uma mudança muito radical, em que todos os dias havia coisas novas para experimentar, e acho que todos esses desafios fizeram com que eu lidasse e me aceitasse de uma forma muito diferente.
Carolina Salema: No barco, estávamos muito menos preocupados com a nossa imagem. Não havia essa necessidade.
Emília Vieira Branco: E não havia tempo para isso ser uma prioridade, porque tínhamos tanta coisa para pensar e assimilar ao mesmo tempo que, pensar na cor da camisola ou em pentear o cabelo desta ou daquela forma, não se encaixava no tempo nem no espaço que tínhamos.  
Jorge Medeiros: Ao início foi difícil cumprir horários, fazer turnos noturnos em que era preciso estar com atenção e depois acabar às 5 da manhã e ir deitar para levantar umas horas depois.

“Acho que nos sentimos todos mais adultos”

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Cidade do Panamá

Gabinete de Imprensa do CNH: Dava para descansar?
Jorge Medeiros: Sim, era uma questão de hábito. Agora já consigo gerir melhor o tempo e não preciso de dormir assim tanto. Mas durmo o suficiente. Aprendi a gerir o tempo. Com este projeto ganhei autonomia, autoconfiança e autoestima.  Acho que nos sentimos todos mais adultos.

Gabinete de Imprensa do CNH: Foi bom passar por casa?
Carolina Salema: Ainda bem que não passámos pelo Faial antes – foi apenas a 3 semanas do fim – porque acho que ia quebrar um bocado. Fomos os únicos que passámos por casa. Não estar a pensar em casa ajudava-nos a concentrar mais em nós.
Emília Vieira Branco: Acho que o objetivo era envolvermo-nos verdadeiramente com as pessoas que ali estavam, evitando que estivéssemos com a cabeça noutro lado.  
Carolina Salema: Tivemos sempre em contacto com as nossas famílias, pois tínhamos um mail semanal para casa. As coisas eram bastante flexíveis. Fazíamos o mail e entregávamos ao Coordenador, que enviava para as nossas famílias e que recebia as respostas e nos entregava. Mas passava tudo tão depressa e tínhamos sempre tanta gente à volta, que o mail para casa era uma coisa boa, porque nos permitia matar um pouco as saudades, mas não estávamos dependentes disso. Estávamos tão absorvidos, que o tempo voava!

- Gabinete de Imprensa do CNH: De que sentiram mais falta?
Jorge Medeiros: Dos animais de estimação, da família, dos amigos mas, principalmente, do sítio.
Carolina Salema: Acho que toda a gente tem saudades de casa quanto não está perto de casa. Não foi muito difícil suportar porque: primeiro, tinha 2 portugueses, o que me fazia lembrar de casa, depois, porque o tempo era tão preenchido que só no fim de tudo é que pensava na família. É claro que tive saudades dos pais e dos irmãos, do cão e do gato, mas depois tinha sempre tantas coisas para fazer, com trabalho de bordo e da escola, que não dava propriamente para pensar nas saudades que tínhamos de casa. A família é muito importante e tudo o que está à volta dela, mas neste enquadramento não estava a morrer de saudades.
Emília Vieira Branco: Do que tive mais saudades foi da minha família, mas foi a partir da segunda metade da viagem que comecei a sentir saudades a sério, porque no início estava imersa naquele mar de coisas novas e de experiências que não dá sequer para descrever e não havia muito espaço para pensar em casa. Tínhamos de estar verdadeiramente ali. A partir da segunda metade comecei a ter muitas saudades de casa e simultaneamente dei comigo a pensar: “Como é que eu alguma vez vou sair deste barco e deixar estas pessoas?” Foi uma mistura entre ter imensas saudades de casa, da família e do cão, e depois saber que o School at Sea ia acabar e não íamos saber como lidar com isso.

- Gabinete de Imprensa do CNH: Não houve problemas de saúde?
Jorge Medeiros: Pequenas coisas, como enjoos, mas estava tudo controlado.
Foi sempre verão nos diferentes locais por onde passámos.

- Gabinete de Imprensa do CNH: Os vossos colegas faziam perguntas sobre o Faial?
Jorge Medeiros: Eles estiveram cá, mas antes disso demonstraram interesse em saber mais coisas.
Carolina Salema: Fizeram perguntas até ter estado cá, mas após a passagem pelo Faial, perceberam como tudo funcionava.
Emília Vieira Branco: Não somos assim tão diferentes. Acho que há muitas mais coisas que nos unem do que aquilo que podemos imaginar.
 
- Gabinete de Imprensa do CNH: Vocês aconselham outras pessoas a embarcar nesta aprendizagem?
Jorge Medeiros: Sem dúvida alguma.
Emília Vieira Branco: Sei de pessoas do Faial e do continente português que gostavam de participar.  
Carolina Salema: Só as pessoas que querem mesmo é que conseguem. O preço estipulado para as propinas funciona como uma espécie de filtro.
Emília Vieira Branco: Qualquer um de nós quer fazer apresentações nas escolas sobre este projeto. Estamos a planear fazer isso no Triângulo (Faial, Pico e São Jorge). É importante toda a gente saber que este projeto existe. Embora não se destine a todos, é fundamental perceber que é possível sonhar e que só se sonharmos e acreditarmos naquilo que queremos fazer é que conseguimos lá chegar. Ninguém vai fazer isso por nós.

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Emília em San Blas

- Gabinete de Imprensa do CNH: O próximo passo na vossa vida é a universidade?
Emília Vieira Branco: Em princípio não vou de imediato para a universidade. Quero aprender de que forma é que consigo mudar coisas no mundo.
Quando for para a universidade pretendo fazer um curso chamado Estudos Gerais, mas não é em Portugal. A ideia é olhar de perspetivas e áreas diferentes para coisas que acontecem no mundo e perceber como é que se pode intervir. Estou a falar de problemas complexos. Como tal, naturalmente que não dá para olhar só de uma perspetiva. É fundamental uma visão mais geral. Espero que isso me ajude a olhar de forma mais geral e abrangente para certos problemas do mundo e ver como é que consigo ajudar a mudar coisas que me parecem importantes.

- Gabinete de Imprensa do CNH: Tu és uma mulher de causas!
Emília Vieira Branco: Estou a pensar ir em Setembro próximo, trabalhar para o campo de refugiados na Grécia e em Fevereiro de 2018 ingressar na universidade, na Holanda.  
Carolina Salema: Gosto de Ciências, mas não tenho ideia daquilo que poderá ser o meu futuro. Esta viagem não me ajudou a delinear uma ideia em termos de carreira, mas tornou-me mais apta para tomar uma decisão nesse sentido.
Jorge Medeiros: Não estou a pensar ir para a universidade. Vou parar um ano para decidir qual o melhor caminho a seguir, mas quase garantidamente vai ser na área da Vela, talvez como capitão de um navio. Quem sabe se poderei estudar na Holanda... Tem escolas fantásticas!

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Outro momento vivido em Domínica

Patrocinadores

Jorge:

-    Sail Azores
-     Câmara Municipal da Horta
-     Norberto Diver
-    Clube Naval da Horta
-     Mútua dos Pescadores
-     Ourivesaria Olímpio
-     Dive Azores
-     Quinta das Buganvílias
-     PneuHorta
-     Espaço X
-     Farmácia Corrêa
-     Famácia Lecoq
-     Monte Carneiro Construções Lda.
-     Doce Delícia
-     Rafael - Construções
-     AeroHorta
-     Turma do Rodeio
-     Restaurante Vítor dos Leitões
-     Restaurante Canto da Doca
-     RATEL (Web Rádio Açoriana)

Carolina:

-    Crowdfunding online
-    Câmara Municipal da Horta
-    Clube Naval da Horta
-    Mútua dos Pescadores

Emília:

-    Flying Sharks
-    Delta Cafés
-    Câmara Municipal da Horta
-    Clube Naval da Horta
-    Mútua dos Pescadores
-    Peter Café Sport
-    Kit do Mar, EMEPC
-    APORVELA
-    HortaSub
-    Excelência Portugal
-    Farmácia Corrêa
-    Crowdfunding online

Fotografias cedidas por: Emília Vieira Branco, Carolina Salema e Jorge Medeiros

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