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“Conhecer os Nossos Atletas” – Mariana Luís: “A Vela trouxe-me disciplina”

Com apenas 3 anos, Mariana Luís já andava no mar em regatas

O facto de com apenas 3 anos já acompanhar o pai (António Luís) em regatas – as histórias que a mãe conta, passadas no Canal, confirmam isso mesmo – despertou em Mariana Luís o gosto pelo mar.

Embora a Vela seja uma realidade na vida desta jovem de 17 anos – a caminho dos 18 (em Maio) – tal aconteceu por incentivo dos pais, e nesse campo justiça seja feita à mãe (Conceição Matos), que sempre lutou para que a filha praticasse desporto.

Paralelamente à Vela Ligeira – que começou aos 4/5 anos de idade – Mariana também se iniciou na Natação, uma vez mais por sugestão da mãe. A participação no Projecto “Férias Desportivas”, do Clube Naval da Horta (CNH), que decorre em cada ano no mês de Julho, foi outra realidade na vida desta atleta.

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Mariana com o pai, António Luís, no “Rajada”

Mariana encarou a Vela a sério, aos 11 anos, quando o Treinador da altura, Pedro Cipriano, lhe propôs participar num Campeonato Regional. “Com 11 anos fui para Santa Maria – onde fiquei em 1º lugar na geral e ganhei tudo nesse ano”, recorda a velejadora (Junior - Classe Laser 4.7) do CNH, que desvenda: “Foi assim que convenci meu pai a aceitar definitivamente a minha vocação enquanto velejadora”.

A acrescentar a essa catadupa de vitórias esteve ainda outro grande feito, com um sabor especialíssimo para Mariana Luís: ter conseguido “roubar” a liderança aos rapazes!

Esse 1º lugar do pódio foi arrebatado por esta adolescente e a sua equipa, de que também faziam parte Tomás Oliveira e Tiago Serpa, ainda hoje atletas do Clube Naval da Horta.

“E a seguir fomos os 3 para o Nacional, no meu último ano de Escola de Vela, antes de começar no Escalão de Optimist. Foi a nossa primeira experiência, numa grande frota, em Sesimbra, mas correu bem”.

Mariana confessa que inicialmente começou na Vela “um pouco contrariada”, pois a idade também não ajudava muito, mas hoje o discurso é completamente diferente: “Agradeço, sobretudo à minha mãe, por me ter incentivado tanto!”

“Só nos Nacionais é que temos contacto com a realidade”

Volvidos vários anos e experiências em largadas, esta velejadora admite que “ainda hoje continua a ser difícil andar em grandes frotas”, mas “só assim é que se cresce”. “Só com diferentes atletas e em diferentes mares se pode evoluir”, garante.

Refere que “os Regionais ajudam a que os velejadores se situem e percebam como está o seu andamento, mas só nos Nacionais é possível ter contacto com a realidade”.

Quando lhe perguntamos se uma boa largada pode fazer a diferença entre ganhar e perder, responde: “A largada é muito significativa, mas a verdade é que não há duas regatas iguais. Podem ser parecidas, mas nunca iguais, por três factores: as decisões que tomamos em cada uma, o meio onde estamos e as decisões de cada um dos outros velejadores. Portanto, é preciso ter muita técnica e jogo intelectual, para vencer a pressão, que é grande”.

Um toque de outro barco numa largada pode ser fatal, já que “segundos podem fazer com que o lugar que um atleta pretendia ocupar já esteja preenchido por outro”. Por isso, “coordenação e condução são aspectos decisivos, embora dependa de pessoa para pessoa e de lugar para lugar”.

A mudança da direcção do vento é outro factor a ter em conta e a desatenção de algum atleta pode jogar a favor do adversário directo.

Sempre a subir

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Mariana no Nacional, em Portimão - “Aqui, sim, tive um choque enorme com a realidade absoluta”

Aos 12 anos, Mariana Luís realizou os Estágios para os Jogos das Ilhas, onde estiveram representados os 3 melhores velejadores Femininos e os 3 melhores Masculinos dos Açores.

“Fui, durante todos os fins-de-semana, ao longo de um mês, fazer Estágios no Porto, com os melhores dos Açores e um dos melhores da Região Norte. Nesse mês, além de me divertir, também conheci pessoas novas e tive o grande choque de velejar numa frota grande!”, memora.

Por integrar o lote dos 8 melhores dos Açores, Mariana tinha acesso garantido ao Nacional, em Portimão, o que aconteceu nos seus 14 anos.

“Aqui, sim, tive um enorme choque com a realidade absoluta e deu para perceber a minha situação: no Regional estava bem, mas no Nacional nem por isso”.

Já na época seguinte – 2014/2015 – esta atleta ficou a meio da tabela no Nacional, que decorreu na Cidade da Horta.

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Rita Branco, Mariana Luís, Tomás Pó e Nuno Câmara, nos Jogos das Ilhas, em 2015

Ir aos Jogos das Ilhas era uma missão de tudo ou nada e muito desejada, atendendo a que este era o último ano em que ainda poderia participar por se encontrar no Escalão de Optimist (a partir daí já não é possível por determinação do Regulamento).

E o desiderato foi alcançado, mas não como havia sido planeado, já que os Jogos decorreram na ilha Terceira, muito perto de casa. “Nos anos anteriores, tinha sido sempre em países estrangeiros, que eu não conhecia, e logo no meu último ano foi na Terceira, mas adorei a experiência e foi fantástico, com gente excelente. A minha equipa ganhou e acabei nos Optimist de forma optimista!”

Rita Branco foi 1ª Feminina; Nuno Câmara, 1º Masculino e Tomás Pó, 2º Masculino. “Fiquei muito feliz por eles, pois estes resultados permitiram que os próximos conseguissem  ir no ano seguinte (2016) aos Jogos das Ilhas”.

“Os rapazes consideram que a Vela é um desporto masculino”

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“Fazer Vela com outra pessoa foi difícil no início”

Mariana lembra que fazer Vela com outra pessoa – neste caso Rita Branco, Classe 420 – foi “difícil no início”. “Eu ia como timoneira e ela à proa. Vencida a adaptação, acabámos por ter bons resultados na frota regional, que é pequena. Éramos caloiras, mas demos luta aos rapazes. Eles acham que a Vela é um desporto masculino e que elas são fraquitas, mas não concordo nada com essa visão. Graças ao meu carácter e postura, consegui impôr-me e tenho a certeza de que me respeitam. Da Vela levo bons amigos (rapazes) e amigos para a vida”.

Esta velejadora viu sempre nos mais velhos um exemplo a seguir e na sua opinião, no tempo em que pertencia aos Optimist, “as raparigas eram mais determinadas, não havendo distinção entre géneros”.

“No CNH, actualmente há mais raparigas do que rapazes na Vela, o que faz com que elas sobressaiam naturalmente”, afirma. Para esse aumento, poderá ter contribuído como factor de atracção, a criação do Ranking Feminino.

“Estou a ocupar um lugar por mérito”

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“Da Vela levo bons amigos (rapazes) e amigos para a vida”

Mariana pode ser tida como a mulher dos 7 desportos. Fez Equitação (dos 3 aos 9 anos) e um dia quer voltar ao ritmo; jogou Ténis (mas não era o seu forte); Basquetebol (no Atlético); praticou Natação (dos 3 aos 10); e mantém o Karaté desde os 8 anos.

Além de tudo isto, ainda frequentou o Conservatório até ao 9º ano (tocava guitarra).

Do conjunto, resistiram a Vela e o Karaté, que a acompanham até ao presente, já que no Secundário as aulas começaram a pesar e houve que fazer opções.

“O Karaté – explica – é um desporto parecido com a Vela. É um complemento pessoal, mas a Vela tem um destaque maior”.

Esta jovem entende que se estivesse no Continente português não teria começado na Vela da mesma maneira, tendo em conta que o Faial é a terra do pai. “O nome dele está em muitas paredes do CNH, mas o facto de ser filha dele nunca me facilitou a vida em nada. Pelo menos, nunca senti isso.

O que me faz mover é ter o meu nome lá em cima e estou a ocupar um lugar que é meu por mérito, porque o conquistei. Naturalmente que nessa caminhada contei com a ajuda dos meus Treinadores e de Amigos, alguns de outras ilhas”.

No capítulo das referências, Mariana aponta o nome de João Costa – de São Miguel – que acompanhou “grande parte” do seu percurso. “Queria estar onde ele estava. Era bom líder e velejador e uma excelente pessoa. Para mim, representava tudo o que a Vela traz de bom a uma pessoa”, vinca.

No CNH, Mariana destaca Tomás Pó, “uma criatura muito dona de si”. E frisa: “É um atleta de ouro para o Clube Naval da Horta e um bom exemplo para os mais novos, sinal de que se quiserem lá chegar, conseguem”.

Ascensão do CNH = boa formação

Esta jovem entende que a ascensão do CNH na Vela – e não só – “fez com que os velejadores faialenses estejam mais equiparados a outros da Região”. E vinca: “Todos os clubes têm os seus meninos de ouro, havendo mais fortes e mais fracos. Nos Regionais assiste-se a um colorido de clubes no pódio.

Quando eu comecei a ter resultados a sério – aos 11/12 anos – estávamos muito atrás. Há 6 anos, o CNH encontrava-se a meio da tabela. Neste momento, já lidera”.

Mariana sustenta que “sem uma boa formação não há um bom reflexo”. E prossegue: “As saídas são importantíssimas, trazem novas experiências e novas histórias, que levam os outros – que ainda não atingiram esse patamar – a querer também lá chegar. Sem dúvida que desde que o Duarte Araújo é Treinador, temos conseguido sair mais da ilha.

O Pedro Cipriano deu formação quando o CNH estava a ascender. Eu tinha 13 anos e os mais velhos 15. Apanhei a transição do Pedro para o Duarte. Mas antes disso, ainda tive a Lina Cipriano como Treinadora, que foi quem me deu as bases. Portanto, considero que o Pedro me incentivou e que o Duarte aperfeiçoou.

Foram três treinadores noutras tantas fases diferentes: criança, adolescente e jovem, não sendo, por isso, possível estabelecer comparações.

Os que agora estão a conseguir ter resultados, também apanharam um pouco dessa transição. Só esta época é que a frota é fruto quase exclusivo do trabalho do Duarte. Tal como eu, o Tomás Pó também foi apanhado nessa transição. Mas o Tomás encara a competição de um modo diferente”.

“O Duarte consegue ter uma boa cumplicidade com os seus atletas”

Instada a pronunciar-se sobre o actual Treinador, Mariana sorri e atira: “O Duarte é uma pessoa difícil e ao mesmo tempo uma excelente pessoa. Sabe quando é para brincar e quando é para trabalhar. Consegue ter uma boa cumplicidade com os seus atletas e perceber quando é que estamos em baixo, incentivando-nos a vir para cima.

É uma criança autêntica e um bom treinador.

Como veio de um meio de profissionais, tem conhecimentos diferentes e outros contactos. Vamos a um Nacional e ele conhece aquela gente toda. Como tal, ajuda os atletas a ficarem à vontade e apresenta-nos os treinadores”.

Quando se pergunta de quem é o mérito dos resultados obtidos, Mariana pensa e diz: “São fruto do nosso trabalho com um bocadinho de açúcar dos treinadores”. E acrescenta: “Um atleta sem treinador não cresce, mas treina, e um treinador também precisa dos atletas para crescer. Portanto, o mérito é 90% nosso e 10% dele”.

Esta velejadora reconhece que, quando Duarte Araújo chegou ao Clube Naval da Horta, há 4 anos – fez em Janeiro passado – “o ritmo de treinos era diferente” (menor), pelo que “quis logo que fossem diários”. “Ele fez com que crescêssemos”, salienta.

“Não vou fazer da Vela uma carreira como atleta”

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A peróla feminina do grupo: Mariana Luís com o Treinador, Duarte Araújo, e os colegas Tiago Serpa, Jorge Pires e Tomás Pó 

A finalizar o ensino secundário (12º ano de escolaridade), Mariana é fã das Ciências Tecnológicas e pretende entrar na Marinha, podendo vir a ser engenheira mecânica.

Por isso, avisa que não vai fazer da Vela uma carreira enquanto atleta, mas como treinadora já não põe o assunto de lado.

“Desde há 2 anos que tenho dado treinos no Projecto do CNH “Vela Espectacular”, em conjunto com o Tomás Pó, o Ricardo Silveira (que já está a estudar no Continente), Tiago Serpa e o Jorge Pires, e tem corrido bem. É sempre turmas de 12 alunos, entre os 8 e os 12 anos, com a particularidade de não terem qualquer noção sobre Vela. Aí é que a pessoa começa a saber ter responsabilidades e a delinear planos de acção”.

Questionada sobre a sua preferência entre praticar e ensinar, responde peremptoriamente: “É mais fácil praticar, mas gosto de ensinar”.

Mariana considera que “ter 16 anos e dar treinos, implica muita responsabilidade”. Por isso agradece ao Duarte “ter tido confiança em três putos para dar treinos, no mar, a crianças de 8  anos”.

Convidada a revelar o que é preciso para fazer um velejador, indica: primeiro do que tudo, gostar do que faz e depois contar com apoio e incentivos.

“Falta o CNH investir mais nos atletas na altura certa”

Enquanto atleta do CNH, Mariana Luís está a despedir-se, já que em Setembro os estudos superiores a levarão para outras paragens.

Para já, temos a 3ª Prova do Campeonato Regional (PCR), que irá decorrer no Faial, nos dias 10 e 11 de Março próximo.

Mariana espera poder ir ainda ao Nacional (de Laser), por altura da Páscoa, que decorrerá em Sesimbra, uma terra que já lhe é familiar.

Depois, virão algumas Provas Locais e, a encerrar, as competições do Festival Náutico.

Questionada sobre o que faz falta, enumera: “É sempre preciso velas, barcos, mastreações e outro equipamento, mas sublinho que o CNH devia investir mais nos atletas quando estes estão no seu melhor e precisam de dar o salto qualitativo. Por exemplo: só no meu último ano de Optimist é que foi feito um investimento em termos de embarcações. Se tivesse sido um ano antes... E recordo que a dupla Ricardo Silveira/Tiago Serpa podia ter tido melhores resultados se não tivesse usado, durante tanto tempo, uma vela que tinha quase a idade deles. O que se nota é que o apoio aparece esporadicamente e quase sempre no último ano de cada escalão, o que já não vem a tempo de impulsionar quem trabalhou tanto. É uma frustração!

Também seria importante os atletas terem conhecimento das condições de acesso aos diversos apoios existentes, como é o caso do “Jovem Talento”. O Tomás Pó conseguiu e outros também poderiam ter alcançado esse estatuto”.

“Encaro a vida de maneira diferente”

Ao fim de quase uma década como velejadora de competição – aqui não contam os anos em que fez mais a vontade à mãe do que a si própria – Mariana encara a vida de maneira diferente, tanto a nível desportivo como pessoal. “Passei a inter-agir mais com os outros, a discutir os meus pontos de vista, a ter perspectivas diferentes e a perceber com quem estou a lidar. A Vela trouxe-me disciplina.

Minha mãe acha que sou uma líder, mas entendo que tento ser a sucessora do líder.

Fui Capitã de Equipa e isso significa que tinha de saber respeitar os outros, ajudá-los e também ter de perceber quando era preciso dar-lhes na cabeça”.

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“Todas as pessoas deviam passar um ano pelo CNH para perceberem o que é esta casa”

Quando se lhe pede que diga aquilo que o Clube representa, a resposta está estudada: “O Clube Naval da Horta é uma Escola que me fez crescer e levo tudo isto para a vida. Foi a base mais importante do meu crescimento pessoal, que nada tem a ver com coisas empíricas.

Todas as pessoas deviam passar um ano pelo CNH para perceberem o que é esta casa, para terem amigos e saber desenrascar-se.

Sem dúvida, que o Clube mudou a minha vida. Se não tivesse passado por aqui não seria a mesma pessoa que sou agora. Seria uma pessoa pior, pois foi o espírito da Vela que me fez amiga, companheira, responsável, a precisar de lutar por mim e a ter garra.

Os meus Amigos estão na Vela. As minhas Amigas têm familiares ligados à Vela. Sinto que na Vela, somos uma família.

Costumo falar na Escola do meu Grupo da Vela. Muita gente sabe o que é o Clube, enquanto estrutura social, mas desconhece o que realmente aqui se vive e se passa.

Graças ao CNH, a Vela no Faial é barata, porque é o Clube que assume as despesas, mas a Vela é um desporto difícil e caro”. 

Mariana: noto que tu cresceste tão rapidamente e ambas concordamos que o tempo passou demasiado depressa!

Ainda ontem eras uma velejadora de pequena estatura e hoje estás uma mulher feita que que sabe o que quer e que fala da Vela com mestria.

Tenho a certeza de que sendo engenheira ou seguindo outra via profissional, nunca deixarás de ser velejadora e de ter o CNH no teu coração, assim como os amigos que fizeste em terra e no mar.

Espero que a Vela nos volte a fazer cruzar – talvez quando já fores Treinadora, quem sabe – nem que seja para confirmar que a tua garra e vontade de tocar o infinito, superando as dificuldades (e a fasquia do mundo masculino) continuam a fazer parte do teu ADN.

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“O Clube Naval da Horta é uma Escola que me fez crescer e levo tudo isto para a vida”

Fotografias cedidas por: Mariana Luís

Duarte Araújo: “A Mariana abriu caminho para uma maior participação feminina na Vela no CNH e nos Açores”

Atendendo a que esta é a última época de Mariana Luís como velejadora do CNH, o Treinador Duarte Araújo demonstrou vontade em deixar um comentário sobre a adolescente que encontrou quando chegou ao Faial e ao CNH, e a evolução que esta atleta registou.

“Quando cheguei ao CNH havia alguns velejadores que se destacavam tecnicamente e tinham a mentalidade certa para a competição. A Mariana estava nesse grupo.

Nos últimos 4 anos tive o privilégio de assistir, de muito perto, à consolidação da Mariana como pessoa e atleta. É a velejadora das Equipas de Vela com mais anos de CNH. Começou muito cedo e tenho a certeza de que a vida dela, de uma forma ou de outra, vai estar sempre ligada ao Clube Naval da Horta.

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“A Mariana é uma amiga!”

O que destaco como velejadora é o mesmo que destaco como pessoa!

A Vela é um desporto muito duro e traz imensos benefícios, mas só são alcançáveis pelo trabalho árduo e esforço. A Mariana Luís assumiu isso desde o início, nunca recusando procurar mais força onde já não existia.

Sempre bem-disposta e com uma atitude harmonizadora, ela é a âncora segura no meio da tempestade, onde os colegas se resguardam para protecção. É uma líder pelo comportamento e atitudes. Sempre respeitada pelos colegas, foi nomeada Capitã de Equipa pelas suas qualidades. 

A sua partida para o Continente português, já em Setembro próximo, significa uma baixa enorme. Custa-me sempre ver sair os velejadores que formamos no Clube, mas o orgulho no que se tornam é mais forte e a falta que ela faz é largamente compensada pelo que os vemos fazer e no que se tornam.

“Foi sendo capaz de tomar as decisões certas nas alturas erradas”

Podemos pensar que fazia sentido ela continuar a representar o CNH, mas tudo é diferente lá fora e ainda é difícil criar essa mecânica para os velejadores que se mudam. Garantidamente que a Vela na vida dela é para sempre. Nunca mais desaparece. Por isso, podemos contar com ela no mar, sempre que voltar.

A descontinuidade dos atletas é um problema grande para o CNH, principalmente porque os mais velhos são um exemplo para os mais novos. Não se cria uma equipa e um clube forte só mudando o tipo de treino; são precisos vários anos e o amadurecimento dos atletas para criar uma mentalidade que se vive no dia-a-dia, feita pelas atitudes que os mais velhos exemplificam. Quando sai uma atleta como a Mariana, o Clube fica mais fraco e o futuro também, no entanto, procuramos criar alternativas e promover outros exemplos.

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“Ela ganhava regatas aos rapazes e provou que a Vela é um desporto para as meninas também”

Para que um velejador consiga apresentar resultados, são necessários, no mínimo, 3 anos, com muita rodagem, muito trabalho e uma grande equipa à sua volta.

A Vela precisa de corpos fortes e rijos e só o tempo e muito trabalho é que podem criar isso. Depois, há a parte técnica, que em alguns é mais rápida do que noutros, mas sem muitas horas de mar, os corpos não estão preparados para as dificuldades.

Infelizmente, a Vela ainda é um desporto maioritariamente masculino. Contudo, os valores que existem neste desporto implicam que qualquer sexo, credo ou raça assim que os atingem se tornem numa pequena família, espalhada pelo mundo inteiro. As regatas são competições que não têm sub-grupos. São todos atletas e têm todos de ultrapassar as mesmas dificuldades.

A Mariana foi fundamental no CNH no sentido de abrir caminho para uma maior participação feminina neste desporto, no Clube Naval da Horta e nos Açores. Ela ganhava regatas aos rapazes e provou que a Vela é um desporto para as meninas também.

O que mais me marcou em relação a ela, foi a sua autonomia e equilíbrio, sendo capaz de tomar as decisões certas nas alturas erradas, assim como a boa disposição e perseverança. É uma amiga!

Quem me dera que ela voltasse um dia como Treinadora. Recordo que a Mariana ajudou, nos últimos dois verões, a dar aulas de Vela. Notei que sabe lidar com as crianças e que conhece bem as técnicas de ensino. A inexperiência que (ainda) tem, é compensada com a dedicação e empenho. Espero que um dia possa dar o seu contributo ao Clube, devolvendo o que lhe foi passado.

“Quem me dera que ela voltasse um dia como Treinadora”

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“Notei que ela sabe lidar com as crianças e que conhece bem as técnicas de ensino”

Em termos de conselhos, digo-lhe que só tem que se manter assim: trabalhar cada dificuldade como sempre o fez, procurando identificar os problemas e pacientemente resolver cada um. A maior lição que o desporto dá, é que o falhanço faz parte do processo de aprendizagem.

A Vela serve, também, para ajudar a formar consciências e orientar caminhos futuros. São-lhes incutidos valores como o respeito, a integridade, a responsabilidade e a coragem, que dão autonomia e ferramentas para o sucesso e realização pessoal.

A vivência no meio natural e a necessidade de sensibilidade para aquilo que os rodeia, leva a que naturalmente percebam algumas coisas que estão erradas e procurem proteger o meio onde vivem. É natural, a meio de um treino, um velejador me trazer um balde ou um saco plástico que encontrou no seu caminho”.

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