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“Conhecer os Nossos Atletas” - Libério Santos: “A Vela trouxe melhorias à minha vida”

“Quero continuar na Vela”

O convite feito por João Duarte – Treinador de Vela da Classe Hansa (Vela Adaptada) do Clube Naval da Horta (CNH) – fez com que o desporto náutico tenha entrado na vida de Libério Santos, no ano de 2011.

Este velejador do CNH era pedreiro de profissão mas um “grande” acidente de moto, ocorrido em 1983, deixou-o paraplégico. “Já tinha sofrido outros acidentes mas este foi o maior. Inicialmente ainda tinha alguma expectativa de que não fosse este o desfecho mas com o tempo essa esperança foi morrendo. Nos primeiros 5 anos foi complicado aceitar o que me havia acontecido. Depois fui adaptando-me. A minha filha já não me conheceu a andar. Só o meu filho. Ambos me ajudam mas a minha mulher é que é a barra central.

Não me sinto inferior aos outros por andar numa cadeira de rodas. No princípio não foi fácil e ouvia muito a frase do “coitadinho para aqui coitadinho para ali”. Também por isso não gostava de sair de casa.

APADIF tem ajudado muita gente

Considero que a cidade da Horta não está preparada para cadeiras de rodas. Há poucas rampas e muitos acessos dificultados. Por essa razão, sozinho não consigo tratar das minhas coisas como ir ao banco, aos correios, etc. Espero que com o novo edifício o próprio Clube Naval fique mais acessível.

A Associação de Pais e Amigos dos Deficientes da Ilha do Faial (APADIF) tem ajudado muita gente na nossa ilha. O Sr. Fialho [Presidente desta instituição há 18 anos] tem sido das pessoas mais importantes na luta pela defesa dos direitos dos portadores de deficiência. É verdade que a situação dele também contribuiu para este interesse mas não é qualquer um que trabalha como ele. Por isso há que enaltecer o seu dinamismo e empenho.

Recordo-me que há 2 anos fui ao espectáculo da APADIF, no Teatro Faialense, dançar tango e tenho de destacar a paciência que o Paulo teve com a gente.

Conhecia mal a APADIF e foi numa festa desta instituição, realizada no Teatro Faialense, que me cruzei com o João Duarte, que me perguntou se eu queria fazer Vela. Respondi que nunca tinha andado de barco e ele convidou-me a experimentar. Gostei e de lá até hoje continuo a praticar.

No CNH são todos incansáveis!

liberio santos 1 2018

“O mar traz-me liberdade!”

No início foi um pouco difícil mas depois encarreirou. Sem dúvida, que a Vela trouxe melhorias à minha vida, pois a gente distrai aí fora, no mar. Quero continuar a velejar se os braços me deixarem. A minha tendinite ressente-se com o esforço que faço, para a qual a Vela também deve ter contribuído.

O João Duarte é Treinador e Amigo. Quando precisamos dele, está sempre lá. Ele é bom nisso: é calmo e sabe como lidar com o feitio de cada um, evitando choques. Sabe bem levar os seus atletas.

Sinto a colaboração do Clube Naval da Horta. São todos incansáveis e dão-nos um grande apoio. Para mim, o CNH é a segunda família e isso sente-se bem quando vamos em deslocações. É como se fôssemos todos uma família.

rgt apadif 1 2018

Libério Santos: “O João Duarte é Treinador e Amigo” 

Primeiro andei em diferentes barcos mas passado algum tempo cada velejador ficou com o seu. Estas embarcações são seguras e nunca sinto medo. Quando estou no mar não penso em mais nada. O mar traz-me liberdade! Quando estamos no mar, em treino ou em prova, somos todos iguais.

Ganhar é sempre bom mas mesmo quando isso não acontece, prevalece a amizade. Somos todos amigos! Costumo dizer que somos amigos em terra e no mar é cada um por si mas na verdade perder e ganhar faz parte do jogo.

Acho que o que está a fazer falta é mais treinos. 

A Vela também trouxe novas amizades

rgt apadif 2 2018

“Tenho mais amigos e convívio na minha vida desde que estou no CNH”, sustenta Libério Santos, aqui ao lado do velejador Carlos Cardoso

A Vela também trouxe essa parte da amizade, do companheirismo, de conviver com outras pessoas. Anteriormente eu já conhecia esta gente mas não tinha confiança com eles. Tenho mais amigos e mais convívio na minha vida desde que estou no CNH.

É sempre bom treinar, porque caso contrário o corpo não se sente preparado e perdemos o ritmo. A idade também vai pesando. Quando o mar está mais mexido fazemos mais força. E sempre que há uma ondulaçãozinha também gosto pela adrenalina que nos permite sentir. Temos de saber que estamos no mar!

É bom participar em Campeonatos Nacionais, o que possibilita conhecermos outras pessoas e outros lugares. Exactamente por isso já fiz amigos no Continente e eles também já vieram ao Faial participar em provas. No Continente é diferente, pois há mais atletas, mais inter-acção e disputa. Gostava que no CNH também pudessemos contar com mais velejadores. Na minha Classe actualmente somos apenas três. Se o número fosse superior dava mais pica!

Já convidei outras pessoas para virem experimentar a Vela mas alguns preferem ficar na cama de manhã. Treinar implica levantar cedo!

A Travessia do Canal é para não esquecer 

A Travessia do Canal, feita em 2014, foi boa. Essa não esquece mais! O mar não estava grandes coisas mas fui o primeiro a fazer esta travessia. Tenho orgulho nisso!

Nunca fui pessoa de ir para o mar. Nem mesmo pescar! Aborrecia-me estar ali a secar em cima de uma pedra, mas a concretização deste desafio significou muito para mim!

Receber prémios – já conquistei vários – é bom e para mim funcionam como recordações”.

liberio aniv cnh 2018

No decorrer da Festa do 71º Aniversário do CH, realizada em Outubro de 2018, Libério Santos também foi premiado

“Arranjo sapatos”

Além da Vela, Libério Santos tem muitas outras ocupações no seu dia-a-dia, como nos explica: “Tenho uns bichos (galinhas, porcos, cabras) e tomo conta deles.

Faço fisioterapia em casa. Tenho uma bicicleta mas sou um pouco preguiçoso.

Também gosto de ver filmes. E como conduzo, saio de casa para dar uma volta. Estou sempre entretido. Além disso, ainda arranjo sapatos. Aprendi com o Sr. Travassos (pai), que era sapateiro. Fui à oficina dele umas vezes, explicou-me como se fazia e foi o bastante. Ponho solas, tacões, cozo, colo, faço tudo! Já faço este trabalho há mais de 20 anos. Actualmente, aparece pouco serviço. Tinha muitos clientes mas também muitos calotes. Algumas pessoas deixavam os sapatos para arranjar e esqueciam-se deles. Diziam que vinham pagar amanhã mas não apareciam mais!”

liberio santos 2 2018

“Tenho orgulho no recorde que consegui bater no Canal”

Sr. Libério: o lugar que o Clube Naval da Horta ocupa na sua vida é insubstituível e sinal de que o desporto, e neste caso concreto a Vela Inclusiva, pode fazer toda a diferença não só no percurso de um atleta como na força renovada para encarar o dia-a-dia.

Os amigos que fez, o convívio gerado, os prémios alcançados e a certeza de que é capaz de superar novos desafios constituem mais-valias para si e para aqueles que o rodeiam, em especial a sua Família.

É com essa garantia e a motivação para novas conquistas que iniciamos este novo ano.

A propósito do feito alcançado por Libério Santos, recordemos o que o Gabinete de Imprensa do CNH noticiou no dia 17 de Dezembro de 2014:

“Libério Santos, do CNH, foi o primeiro atleta dos Açores a realizar o Horta-Madalena-Horta – Sprint na Classe Access

A partir de hoje (17 de Dezembro de 2014), os atletas açorianos da Classe Access (Vela para pessoas com mobilidade reduzida) – [que agora tem a designação de Classe Hansa] – podem inscrever-se para bater recordes no que respeita a esta Classe. O pontapé de saída foi dado na manhã do dia de hoje pelo velejador do CNH, Libério Santos, que fez o Horta-Madalena-Horta – Sprint em 2 horas, 34 minutos e 21 segundos.

No CNH o dia é de festa e ficará para a história com o recorde pessoal conseguido pelo velejador Libério Santos, da Classe Access 2.3.

O atleta do Clube Naval da Horta propunha-se fazer o Horta-Madalena-Horta – Sprint no menor tempo possível. Mesmo sem as condições ideais, a proeza foi alcançada em 2 horas, 34 minutos e 21 segundos.

“Correu bem e estou satisfeito. Apesar de a viagem Madalena/Horta ter sido mais difícil, com mais vento o que fez com que entrasse água no barco obrigando-me a parar para retirá-la, pensava que no total ia levar mais tempo. Foi rápido”. É assim que o velejador define este desafio que considera como “um recorde”, sublinhando que está pronto para repetir a iniciativa.

liberio santos sprint 2014

“Correu bem e estou satisfeito”

Libério Santos, visivelmente orgulhoso de si próprio, fez questão de agradecer o apoio do seu Treinador, João Duarte, bem como de todos os Dirigentes e membros do Clube Naval da Horta que o acompanharam e motivaram neste desafio.

Á chegada, o Treinador da Classe Access do Clube Naval da Horta, João Duarte, caracterizava este desafio como tendo sido “uma maravilha, num dia com sol”. Apesar de considerar que se tratou de “uma prova durinha”, João Duarte realça que “o estado de espírito do velejador foi sempre muito bom e que o percurso não podia ter corrido melhor”. A 1ª perna (Horta/Madalena) foi feita numa hora, 20 minutos e 21 segundos e a 2ª (Madalena/Horta) numa hora e 14 minutos. Até ao Pico o vento soprou com a intensidade de 12/13 nós, ao passo que no regresso ao Faial aumentou de intensidade, com rajadas de cerca de 18 nós. “Na viagem do Pico para o Faial apanhámos vento por trás e muita ondulação, o que fez com que o Libério tenha parado por diversas vezes para retirar água da embarcação”, explica o Treinador.

Recorde-se que esta iniciativa do CNH visou comemorar o Dia Internacional da Pessoa com Deficiência, que se assinalou no dia 3 deste mês. No entanto, as desfavoráveis condições climatéricas não permitiram que o Sprint tivesse sido realizado nessa data, pelo que se concretizou hoje.

joao duarte

“Este Sprint tem um significado muito especial para este tipo de atleta, representando a superação, a coragem, a afirmação e a inclusão”, sublinha João Duarte

Relativamente à importância deste evento, João Duarte salienta que “representa claramente a superação da pessoa com deficiência, que revela coragem e determinação, sendo sinal de inclusão e afirmação da pessoa em si”. “É a prova de que todos são capazes de ir mais longe, testando os seus limites”, frisa este Técnico em Educação Especial e Reabilitação.

O Treinador de Vela da Classe Access do CNH explica que esta iniciativa foi o cumprimento de uma promessa feita aquando da realização do Campeonato Nacional da Classe Access em Viana do Castelo, no ano de 2013, em que foi acordado que o melhor velejador em prova seria o primeiro a enfrentar este desafio.

No entender do Presidente da Direcção do CNH, José Decq Mota, que fez questão de acompanhar o atleta, “o Sprint correu bem”.

Quanto ao tempo, afirma que “as condições no Canal estavam no limite” e que “a ondulação, com vento e maré, intensificou-se na viagem de regresso, o que fez com que o Libério se tenha molhado”.

O facto de o vento ter crescido entre a Madalena e a Horta provocou diversas paragens. Por isso, José Decq Mota não tem dúvidas em afirmar que “o tempo realizado poderia ter sido menor, em cerca de 20 minutos”.

O Presidente da Direcção do CNH congratula-se com “a vontade e desempenho deste atleta” e diz que “ainda bem que não se desistiu de fazer o Sprint, apesar das condições, onde o frio foi uma constante”.

De realçar que nos Açores, Libério Santos foi o primeiro atleta da Classe Access a conseguir realizar uma iniciativa deste género.

“O objectivo agora é ir tentando bater o tempo que este velejador alcançou. Por isso, dentro das regras existentes, quem quiser pode inscrever-se para tentar bater recordes”, salienta este Dirigente.

De realçar que atletas de diversas Classes do Clube Naval da Horta já realizaram Sprints em anos anteriores, seguindo este recorde uma linha de continuidade nesta instituição.

O percurso, que teve o seu início por volta das 08h45, contou com o apoio da lancha “Walkiria” em termos de segurança e onde seguia o Presidente da Direcção; e dos semi-rígidos “Piloto João Lucas” onde ia o Treinador João Duarte, figura central de motivação e confiança do velejador; e “Tabarly”, onde seguia o Júri do Sprint, Luís Paulo Moniz, e o terapeuta ocupacional da Associação de Pais e Amigos dos Deficientes da Ilha do Faial, Nilzo Fialho”.

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